FILANTROPIA
SERÁ QUE AS NOSSAS ENTIDADES SÃO SÉRIAS?


Autores:

Arnaldo Felipe de Almeida - Conselheiro da SAC
Francisco Alexandre de Almeida - Microempresário
Fortaleza - Ceará - Brasil - 27/05/2001

    Esta é uma das perguntas mais freqüentes que empresários e pessoas físicas fazem ao mostrar interesse em ajudar pessoas e entidades que trabalham o social ou como é conhecido “o Terceiro Setor”.

    Uma grande parte das entidades filantrópicas no Brasil, trabalham realmente de modo sério e idôneo. Este cálculo foi obtido através de pesquisas anuais de títulos protestados, ações judiciais contra entidades, cheques sem fundos de diretores, etc. Em virtude disto, temos este alto percentual positivo de que as entidades têm fichas limpas nesta área, contrastando com as médias e pequenas empresas, pessoas físicas, e profissionais liberais em geral os quais não costumam se sair tão idôneos assim.

    Embora exista este alto índice de honestidade, temos que conviver com algumas entidades com um espírito menos sério - digamos assim, que tem o péssimo hábito de enganar a fé alheia. Como só não há jeito para a morte, temos condições de evitar que nossa boa ação de doar nosso trabalho e ajuda pecuniária a alguma entidade, possa ser desviada para outros fins menos nobres e por que não dizer obscuros.

    Existem algumas precauções que podem ser tomadas para evitar descobertas desagradáveis de qual rumo tomou tão boa intencionada ajuda. Além do mais precisamos nos lembrar sempre de que “nosso bolso é nosso guia”, devemos doar sempre aquilo que podemos ou o que não vai nos fazer falta de imediato ou num futuro próximo.

    Podemos relacionar algumas dicas para orientar aqueles que tem um espírito solidário possam ficar um pouco mais tranqüilos em relação ao destino de suas doações. Como por exemplo:

1) Caso tenha condições procure doar seu tempo ou dinheiro para mais de uma entidade;
2) Inicialmente colabore sempre com um valor pequeno de seu tempo (voluntariado) ou dinheiro em intervalos regulares e a medida que você for tomando gosto pela coisa aumente seu envolvimento com o passar do tempo;
3) Certifique-se de que a entidade tem o CERTIFICADO DE FILANTROPIA, que somente é renovado pelo Governo Federal mediante a comprovação dos trabalhos sociais realizados pela entidade;
4) Pergunte se a entidade publica o seu balanço anual na mídia escrita da cidade onde está sediada;
5) Se for possível para você, seja voluntário(a) por algum tempo na entidade que pretende ajudar com dinheiro, o objetivo é conhece-la melhor, depois realize a doação;
6) Evite doações por impulso, campanhas e telemarketing das entidades. É você que tem que escolher a entidade e não ser escolhido por ela.

    As entidades formadas por pessoas de má-fé ("pilantras"), normalmente não buscam visibilidade, não publicam informações e nem recrutam voluntários, que poderiam ficar bisbilhotando as suas atividades, estão sempre de olho as verbas governamentais. No Terceiro Setor a única riqueza que existe é a de Espírito Solidário, desta forma os bandidos tendem a não querer usa-lo para os seus golpes.

ANTES DE DECIDIR, O QUE E AONDE DOAR É PRECISO:

1) APRENDER COM OS ERROS DOS OUTROS

    Caso você não tenha experiência no assunto, vá com calma. Afinal, ninguém quer ver seu tempo e dinheiro escorrer pelo ralo. Primeiro, aproxime-se de quem já está habituado a fazer doações, amigos, vizinhos ou representantes da comunidade. Aprenda como essas pessoas executam as contribuições. Tire suas dúvidas, peça dicas, questione, discuta vantagens e desvantagens, pois esse primeiro contado é muito importante porque, com ele, você poderá evitar enganos que já foram cometidos pelos outros.

2) DEFINA A ÁREA QUE MAIS PRECISA DE SUA AJUDA:

    O Brasil é muito carente em todos os sentidos e principalmente na área social. Caso não existissem verdadeiras pessoas abnegadas que estão dentro da filantropia sempre ajudando uma ou outra entidade, realmente nosso problema social que já é muito sério, ainda seria muito pior. É costume os governos brasileiros nunca dar prioridade à área social e assistêncial aos menos afortunados por isso cabe a nós pessoas comuns tentar reverter este quadro. Todas as áreas que trabalham com assistência social necessitam de ajuda. Existem centenas de áreas que podem receber nossa ajuda tais como :

- Crianças e Adolescentes carentes;
- Hospitais de Câncer em todo o país;
- Entidades não governamentais, que protegem o meio ambiente;
- Organizações que trabalham com idosos, hanseníase, deficientes visuais, mentais, auditivos, presidiários;
- Escolas para pessoas portadoras de algum tipo de deficiência;
- As pastorais da igreja e etc.

    Todas essas áreas precisam muito de ajuda, mas você precisa escolher uma. Essa decisão é resultado de sua própria reflexão. Caso opte por mais de uma área é preciso ter cuidado para não se perder em meio a vários projetos e objetivos diferentes.

3) EM QUE REGIÃO DEVE ESTAR LOCALIZADA A ENTIDADE BENEFICIADA?

    O Próximo passo é a escolha da área geográfica onde sua entidade está situada. Muitas pessoas preferem estar bem próximas das entidades que ajudam; a creche do bairro ou a entidade que abriga deficientes físicos da própria cidade. Nesse caso, há uma vantagem. Você poderá verificar no dia - a - dia, como suas contribuições serão aplicadas. Outras pessoas acreditam que projetos em outros estados, como as famílias atingidas pela seca no Nordeste ou a destruição da Floresta Amazônica, são mais importantes. Entidades locais ou não, a escolha é sua.

4) MONTE UMA LISTA DAS ENTIDADES CANDIDATAS À DOAÇÃO.

    A pesar de ter em mente o perfil da entidade que se pretende apoiar, esta etapa geralmente é a mais trabalhosa, além do mais é preciso definir qual ou quais serão ajudadas. Um bom começo é fazer uma lista das entidades que se enquadram no perfil e nas características traçadas ao por em prática o desejo de doar. Caso não tenha idéia qual entidade será a beneficiada é bom consultar os conselhos Municipais e Estaduais. Estes últimos são órgãos, compostos por representantes do governo e pela população, que acompanham e auxiliam o trabalho de algumas entidades beneficentes.
Normalmente eles tem um amplo material sobre as instituições e suas atividades. No caso de crianças, há o Conselho da Criança e do Adolescente, que poderá oferecer informações de valiosas para sua tomada de decisão.

5) A VISITA ÀS INSTITUIÇÕES PODE SER FUNDAMENTAL PARA UMA DECISÃO SEM ARREPENDIMENTOS.

    Depois da pesquisa, escolha duas ou três instituições que mais se adequam aos seus critérios e faça uma visita. Com certeza é muito eficaz verificar pessoalmente (olho no olho) como funciona, o estado de suas instalações e etc.
    É importantíssimo que na ocasião da visita você possa perceber a real essência do trabalho que é desenvolvido dentro da entidade. Por exemplo, numa creche, os dirigentes não devem apenas dizer quantas crianças abrigam, mas como o fazem, quais os projetos para incrementar as atividades ou as metas para a ampliação do prédio onde está localizada. É preciso ter sempre em mente que o objetivo de uma instituição não lucrativa é melhorar a qualidade do seu serviço a cada dia independentemente de sua atividade.
    É de bom alvitre ter conhecimento das pessoas que estão a frente da entidade. Conhecer melhor suas idéias e seus valores, procurando identificar pontos de convergência entre as idéias dos dirigentes e as suas. Quanto mais contato houver entre você e os dirigentes, menos surpresas desagradáveis ocorrerão. Não tenha vergonha de pedir informações de como elas realizam suas atividades.

6) DESENVOLVA UM TRABALHO EM COJUNTO COM A ENTIDADE.

    Definido o nome da instituição, é hora de você começar a trabalhar em parceria. É possível que a entidade apresente um projeto por escrito para o qual seria destinada a doação. Um roteiro de como serão feitos os investimentos, qual o retorno que se espera do projeto, prazos etc. Talvez o maior pecado das pessoas e empresas que fazem doações é que elas não se informam direito sobre o que será feito com o dinheiro e criam expectativas, muitas vezes, totalmente irrealistas; pois acham que vão mudar o mundo. Em alguns casos, quando se sabe qual será o projeto beneficiado, é possível organizar um calendário de doações. Elas podem ser até realizadas em etapas e não de uma só vez. Além disso, ao ter em mãos um documento fica bem mais fácil cobrar depois.

7) ESTEJA ATENTO AOS RESULTADOS.

    Após ter efetivado a doação é muito importante que você tenha consciência que seu trabalho não terminou ele está apenas começando. Caso você desista agora, pode por tudo a perder. Para qualquer doação produza efeitos e torne-se eficaz, é preciso acompanhar os resultados. Para estar ligado peça informes periódicos para entidade. Dados como o número de pessoas beneficiadas pelo projeto, o que foi concluído e o que ainda falta.
    Desta forma, você corre menos riscos de ver seu dinheiro e tempo aplicado em projetos ineficazes. Por exemplo, se você faz uma doação a uma escola pobre, não quer ver seu dinheiro aplicado na reforma da sala do diretor, mas na compra de material didático para os alunos.

8) VOCÊ NÃO É O DONO DA BOLA SÓ PORQUE FEZ UMA CONTRIBUIÇÃO À ENTIDADE.

    É preciso ter o cuidado para não inverterem-se os papéis. Não é porque você fez uma doação para determinada entidade que poderá entrar lá e comandar tudo do seu jeito. Com certeza este é um dos equívocos mais comuns cometidos pelos colaboradores que acabam se sentindo donos do pedaço. É fundamental que se respeite o trabalho da instituição e até ajudar com seu conhecimento ou experiência, mas sem mudar o que já é feito com eficiência.

9) HÁ BENEFÍCIOS FINANCEIROS PARA QUEM FAZ DOAÇÕES?

    Os benefícios de se fazer uma doação são irrisórios. Não há um programa eficaz de estímulo à filantropia no país. Uma das exceções é a cultura.

10) TALVEZ VOCÊ POSSA SER UM SÓCIO CONTRIBUINTE.

    Caso não tenha tempo de fazer tudo isso. Sua carga horária no trabalho e com as atividades em casa lhe consomem todo o seu tempo ? E por conta disto não possui tempo de acompanhar os resultados de sua boa ação ? Ainda há uma última saída. Tornar-se um Sócio - Contribuinte. Neste caso você escolhe a entidade e faz doações periódicas. Nos fundos dos conselhos municipais e estaduais ou da Criança e do Adolescente, por exemplo, a própria comunidade realiza a fiscalização periódica sobre o destino das verbas recebidas e empregadas, não sendo assim portanto um acompanhamento mais intenso.

11) SEJA VOLUNTÁRIO.

    Você pode ainda contribuir com entidades beneficentes sem fazer doações em dinheiro sendo um VOLUNTÁRIO, assim como os AMIGOS DA ESCOLA, por exemplo. Para isso aproveite seu conhecimento ou experiência em determinada atividade e ponha em prática.

12) ERROS ELEMENTARES:

- Nunca doe equipamentos ou roupas imprestáveis, remédios vencidos, comida já servida, móveis carcomidos por cupins e etc.;
- Se for doar livros e tiver algum sem capa, mande reencapar ou cole as folhas soltas;
- Se você pretende ser voluntário nunca diga o que você quer fazer, sempre procure o Assistente Social ou o responsável pela entidade e pergunte quais os serviços que a entidade está oferecendo para voluntários, depois decida no que vai trabalhar;
- Quando for fazer uma doação não seja arrogante, doar é um ato de amor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Cabe a nós brasileiros tentar reverter este quadro de miséria institucional enraizado no nosso país, sabendo escolher, representantes sérios para gerir nossos recursos e execrar deste mundo aqueles que não estão dispostos a agir com seriedade e ética profissional. Enquanto isto não acontece precisamos pensar nas pessoas que estão à margem da sociedade em asilos, sofrendo em hospitais públicos, todo tipo de instituições para deficientes, abandonadas nas ruas etc. Fazendo nossa parte em ajudar essas pessoas concretizamos o pensamento que diz: “Nascemos sem nada e nada levamos deste mundo. As únicas coisas que ficam de concreto e pelas quais seremos sempre lembrados são as boas ações”.


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