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Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Quinta-feira - 22-08-2002
Fortaleza - Ceará - Brasil
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- CIDADE -
MULTIPLANO
Invento facilita o estudo de Matemática pelos cegos


    A matemática não é mais algo inacessível para os cegos. A invenção do Multiplano, instrumento que deve ganhar o título de primeiro multiplicador no Ceará e no Nordeste, permite que os portadores de deficiência visual aprendam de gráficos à geometria espacial e cálculos avançados. O benefício representa melhoria não só no aprendizado, mas na perspectiva de vida de pessoas que nunca viram um número ou uma figura geométrica.

    O invento foi batizado, em 2000, de Geoplano, mas logo se adaptou para estudos de terceira dimensão e passou a se chamar Multiplano. A idéia surgiu em Cascavel, no Paraná, e chegou ao Ceará em dezembro de 2001, com um curso. No Paraná, duas universidades aceitam que deficientes visuais usem o instrumento na prova de matemática do vestibular.

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OS ALUNOS
cegos apredem Matemática com ajuda do Multiplano,

criado pelo professor Rubens Ferronato

    Segundo o inventor e professor do curso de ciências da computação da União Pan-Americana de Ensino (Unipan), Rubens Ferronato, a iniciativa surgiu, em menos de dois dias, para ajudar um aluno cego em dificuldade no curso.

    O instrumento é feito de uma placa de qualquer material ou tamanho, com furos na mesma distância e linhas e colunas de forma perpendicular que caracterizam um plano cartesiano. Nas pequenas aberturas são colocados os pinos e, entre estes, os elásticos que formam retas.

    São usados também arames para fazer parábolas e localizar os segmentos. O instrumento em terceira dimensão permite ainda que a pessoa determine a localização espacial de figuras.

    De acordo com o professor, tateando é possível aprender e construir, com o Multiplano, gráficos, geometria plana e espacial, matriz, determinante, sistema linear, equações, estatísticas, operações, cálculos avançados, limites de uma função, derivadas. “Até agora todas as perguntas foram respondidas”, comemora.

    Na opinião do diretor da Sociedade de Assistência aos Cegos, Waldo Pessoa, essa é “a maior invenção que já houve desde o braile, que é usado como base”. Para ele, o que mais impressiona é que portadores e não portadores de deficiência visual podem interagir. “É um auxílio também para quem tem dificuldade de aprender matemática, independente de ser cego”.

Aprendizado gera multiplicadores

    O estudante de computação e auxiliar administrativo Ivã José de Pádua não só motivou a invenção do Multiplano como é o primeiro multiplicador da idéia. A intenção é que, através de cursos, a metodologia chegue aos cegos e estes se tornem multiplicadores do sistema. O primeiro facilitador do Nordeste está sendo formado e é do Ceará.

    “Já cheguei a ensinar pessoas que enxergam e a cegos também”, diz Ivã. Ele conta que não tinha noção de interpretação matemática, apenas calculava, e bem. “Ele era a calculadora da sala de aula, mas na hora de interpretar era excluído”, relembra o professor Rubens Ferronato.

    Os planos de Ivã incluem se aperfeiçoar na computação e disseminar a idéia para outros portadores de deficiência visual. “Se isso não tivesse acontecido eu ia parar, me desestimular. Hoje minha auto-estima é outra”.

    O próximo a passar por esse processo é o estudante de pré-vestibular Celso André Nóbrega da Costa. Depois de fazer o curso em dezembro do ano passado, ele está estudando para ser o primeiro multiplicador no Nordeste.

    “A matemática era totalmente restrita pra gente. Eu nem imaginava que um dia ia estudar pirâmide. Já tinha estudado cubos em sólidos, mas em 3D (tridimensional) é outra coisa. A noção é real”, ressalta.


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