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Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Quinta-feira - 18-10-2007
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Opinião - Idéias
Mais respeito


JOSÉ MARIA BOMFIM - Médico cardiologista

      Antes de o homem habitar o mundo, segundo estudos arqueológicos, já encontrou as doenças. Médico e doença são milenares. A figura do médico inicialmente era revestida de uma liturgia respeitável. Levava nomes augustos como sacerdote, flâmine, físico, esculápio, filho de Hipócrates, filho de Sófocles e, finalmente, médico. A medicina antes era uma arte e posteriormente se transformou em ciência. W. Osler afirmava que a medicina é a arte da incerteza e a ciência da probabilidade. Os Eclesiásticos (38-2) rezam ´a cura procede de Deus, mas o médico recebe presentes de rei´. O médico não é o melhor ou o pior dos profissionais, mas ele é um profissional especial. Como dizia nosso querido Regis Jucá, se o engenheiro cuida das construções, quem cuida do engenheiro é o médico. O médico vela pelo presente divino que Deus nos deu, a vida. William J. Mayo (1861-1939), um dos fundadores da Mayo Clinic, dizia que, individualmente, nenhum homem é mais respeitado do que o médico. No País há um descaso com o profissional da saúde. Como há um descaso com a própria saúde. Esta visão estreita e tacanha não é de agora. No regime militar, extinguiu-se a função do profissional, para chamá-lo tão somente de servidor. Uma forma de diminuir a influência social do médico. Não nos surpreende estas atitudes. No país em que se mata por um cigarro, um tênis, um celular, ou mesmo por uma atitude bestial de destruição, a vida tornou-se banal. Banalizou-se a vida. Pouco valor tem o médico. No livro Memórias de Adriano, de Margueritte Yourcenar, o paciente imperial relata que hoje foi ao esculápio e teve que se despir. Ele tinha hidropsia, barriga d´água. E disse que sentiu-se como uma virgem nua numa noite nupcial. Despido de todo poder ante um simples cuidador de sua vida. Hoje não se respeita nem o santuário do médico, o seu consultório, como os meliantes fizeram com o grande Dr. Waldo Pessoa. Um pouco de culpa cabe também ao médico, pois em hospitais de grande conceito existem os médicos chamados diaristas. Mais respeito com as diaristas, mais respeitos com um profissional que um dia já teve ares celestiais.

Nota de esclarecimento:
O Dr. Francisco Waldo Pessoa de Almeida era Presidente da Sociedade de Assistência aos Cegos - SAC na época que foi brutalmente assassinado.


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