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Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Terça-feira - 18-03-2008
Fortaleza - Ceará - Brasil
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PAIXÃO DE CRISTO
A via-crúcis dos ´especiais´


Nas calçadas de ruas próximas, o grupo de deficientes visuais atraiu os olhares curiosos e emocionou a platéia

      As condições eram mínimas, mas o entusiasmo em reviver a via- sacra do filho de Deus até ser crucificado era enorme. Em meio à confusão de carros, buzinas e, claro, obstáculos nas calçadas, os deficientes visuais assistidos pela Sociedade de Assistência ao Cegos encenaram, ontem à tarde, a Paixão de Cristo.
      Em cortejo, o grupo de 42, dos quase 300 atendidos, seguiu pelas ruas próximas à instituição, inclusive na Avenida Bezerra de Menezes, no bairro Monte Castelo. Nela, ao mesmo tempo em que o som dos chicotes oriundo dos punhos dos guardas romanos regia a atuação, os atores eram obrigados a se espremer nas calçadas para conseguir continuar o trajeto.

Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Espetáculo: há cinco anos, a Sociedade
 de Assistência aos Cegos encena a
Paixão de Cristo

      Para isso, foi necessário ultrapassar carros, paradas de ônibus, transeuntes, buracos e o próprio trânsito. “Era para ser mais longo o percurso, mas sem o apoio da AMC (Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania) não deu. Eles apóiam algumas festas populares e, nós pedimos ajuda, enviamos ofício, só que há três anos a AMC não nos ajuda”, justifica a presidente da entidade, Josélia Almeida.
      Porém, nem mesmo a falta de estrutura ofuscou o brilho da encenação. Tanto que, durante a caminhada, a platéia ia se formando nas portas das casas, nas lanchonetes, oficinas, paradas, pelos pedestre que pararam ao passar pela apresentação e, ainda, pelos moradores das redondezas. Entre eles, estava a gerente de vendas Eliete Barbosa Braga, 37 anos.
      Acompanhada pela filha Elen, de 7, e pelo vizinho Pedro, 6 anos, Eliete ressalta que em todos os anos assiste à encenação promovida pela entidade. “É importante porque é um trabalho feito pelos deficientes visuais. É uma oportunidade de reviver a história de Jesus e eles entenderem com o momento real”.
      Para os pequeninos, a emoção aparece em trechos distintos. Entretanto a história recontada da via-sacra não deixa de comovê-los. “Fico emocionada quando ele morre na cruz”, diz Elen. “Me emociono quando eles batem nele com o chicote”, descreve Pedro.

Experiências

      Segundo Josélia Almeida, os cinco anos de apresentação do sofrimento de Jesus ao ser levado à cruz, possibilita aos espectadores conhecer a saga de do menino Jesus, além de expressar as habilidades dos deficientes visuais.
      “Revivemos uma trajetória que há dois mil anos existe. Eles estão chamando atenção para capacidades que têm, além de buscar a igualdade . Minha alegria é vê-los superando. Todos os dias eles podem começar. São um exemplo para muita gente”, reforça.
      Em opinião semelhante, o instrutor de Informática da Sociedade de Assistência, Paulo Roberto Cândido, 47 anos, afirma que a representação nas vias públicas é uma maneira de atrair a atenção da vizinhança para o que produzido na parte interna dos muros da instituição. Cláudio Cândido interpretou Jesus na Paixão de Cristo. “A falta de visão não é empecilho para que eles sejam incluídos na sociedade. Uma atividade como essa, chama a atenção dos que fazem parte da comunidade”, considera.
      Para a deficiente visual Tereza Neuma Nogueira, 50 anos, a apresentação no meio da rua foi uma homenagem a Cristo. “Me sinto altamente orgulhosa”. Aliás, conforme destacou, a deficiência que traz desde a infância não é um obstáculo para demonstrar sua capacidade de praticar atividades como as demais pessoas. “A minha alma enxerga a vida. Com a encenação na rua, pude mostrar isso e também o incentivo da entidade ”, compartilha.

ENQUETE
O que representa a encenação para você?

Eveline Fernandes
38 ANOS
Enfermeira
"É muito bonita a peça. É uma forma de conhecer a história de Jesus Cristo e engrandecer a Igreja Católica"

Roger de Oliveira
25 ANOS
Assistido
"Muitos olham para o deficiente e pensam que não somos capazes de ter talento. Todos se esforçaram demais"


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