Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Domingo - 28-04-1991
Fortaleza - Ceará - Brasil
http://www.diariodonordeste.com.br
Segregação social não desanima cegos de lutarem por vida normal


Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE

A luta não é das mais fáceis do quadro de injustiça social brasileira. Na verdade, os cegos, em sua maioria, vivem em regime de segregação social. Mas o Instituto dos Cegos, num trabalho quase solitário, mostra que é possível a reintegração dos deficientes à sociedade. Através do Instituto, muitos deficientes conseguiram abrir seu espaço dentro de uma sociedade preconceituosa e competitiva.

    Nas alamedas do Instituto dos Cegos, eles transitam nos Intervalos entre uma atividade e outra e, geralmente, formam grupos animados que se preparam para o futuro sem o ranço da palavra que insiste em dominar o vocabulário de cada um: restição. Os cegos, entretanto, percebem-se uns aos outros com uma intensidade que chega a causar estranheza a quem vê, não conhece e não consegue penetrar na realidade de um ser que nasceu assim ou, gradualmente, foi perdendo a visão. Isso porque para o homem moderno os sentidos puderam ser resumidos em um só, com a atrofia dos demais. A fixação na visão gerou uma descopensação maior no próprio ser humano, hoje sem mais noção do essencial - para o poeta e filósofo Exupery, expresso de forma significativa, como "Invisível aos olhos".
    Fundado há mais de 20 anos, o Instituto dos Cegos tem sido o local onde os deficientes visuais do Ceará lutam para se ver livre da condição de segregados. Lá, além do contato com os demais, eles têm condições de desenvolver suas habilidades - mesmo com as limitações impostas pela falta da visão   - de se reestruturarem emocionalmente, se capacitarem profissionalmente, enfim de se prepararem para o enfrentamento do mundo. O instituto, porém, como toda entidade beneficente e pública, tem problemas para reintegrar o cego à sociedade, muitos dos quais esbarram na falta de recursos. Nessas condições, ainda é muito pequeno o número de cegos assistidos pela instituição, que proporciona também atendimento médico aos deficientes e, em casos cirúrgicos, devolve a visão a transplantados, com a manutenção de um Banco de Olhos, atualmente, coordenado pelos próprios necessitados, que vão atrás de doadores de córneas.

Atividades
    Josélia Almeida, administradora do Instituto, explica que a admissão dos deficientes em regime de internato é realizada com uma triagem rigorosa, uma vez que a entidade não tem condições de alojamento para um número grande de cegos. Além disso, é dada prioridade aos interioranos sem parentes em Fortaleza. A regra, entretanto, é de que mantenham vínculos com alguma família fora do local para, assim que concluirem os cursos normais de aprendizagem, terem condições de retomar suas vidas de forma equilibrada, se possível, já com uma atividade profissional definida.
    O apoio à profissionalização é uma das mobilizações do Instituto. Em suas dependencias, funciona uma escola pública de primeiro grau (até a 4ª série) para crianças e adultos. Os professores compõem o quadro de funcionários do Estado, mas receberam orientações precisas para alfabetização e o ensino de cegos,que podem e devem ser estimulados ao aprendizado e desenvolvimento a partir da mais tenra idade (para o aprimoramento psicomotor e intelectual). O método Braille para a leitura (pontos perceptíveis de forma tátil) é ministrado até aos elementos com visão subnormal, que em muitos casos não se adequam perfeitamente por ainda apresentarem resquicios de visão.
    Segundo Gina Paula, há cinco anos atuando com os cegos, a criança com problemas visuais é mais inquieta e ansiosa do que as outras. Além disso, apresenta em decorrência da limitação problemas de coordenação motora, principalmente se não for estimulada precocemente. O ensino é diferente do que se tem regularmente. Todas as tarefas manuais são feitas em alto relevo, e derecionadas para a realidade dos próprios deficientes. "As turmas devem ter um número restrito de crianças (no mínimo, sete) para que se possa dar uma orientação adequada", esclarece.
    Os deficientes maiores, que foram trazidos aos Instituto com idade mais avançada - por falta de conhecimento ou Instrução dos pais, ou por terem repentinamente perdido a visão como se apresentaram alguns casos de acidentados - a partir dos 23 anos, recebem orientação para se locomoverem. De acordo com Maria José Teixeira, há mais de um década realizando essa missão com os cegos, a mobilidade é essencial para a independência do deficiente, dando-lhe mais segurança e vontade de se tornar autônomo. Ela acredita que a superprodução familiar prejudica o desenvolvimento individual e, por isso, faz um trabalho à parte com cada um. Geralmente, leva-os em grupos pequenos ao centro da cidade. Ensina-os a transitar nas vias públicas, perceber os acontecimentos ao redor e reconhecer as características de cada localidade, o tipo de chão que pisam, etc... O curso de orientação mobilidade dura em média, um ano, tempo suficiente para os cegos aprenderem todos os tipos de movimentação espacial, como ir a bancos, lojas, andar de ônibus, atravessar ruas (mesmo solicitando ajuda de terceiros), tudo sozinhos, apenas com auxílio de uma bengala.

Artes

    Atualmente o instituto possui cerca de 70 alunos matriculados - de bebês com meses a pessoas idosas. Há bastante tempo Amélia Carioca é a orientadora das atividades diárias e cotidianas para um deficiente, que no local são conhecidas pelas iniciais a.v.d. Todas as tarefas corriqueiras do dia-a-dia são ensinadas aos cegos, como sentar-se para fazer uma refeição, cozinhar, lavar louça, fazer a limpeza da casa etc. A maior parte acha importante realizar essas atividades, poucos entretando gostam de fazê-las, além da obrigatoriedade.

O Instituto
possui cerca de
70 alunos
matriculadors -
de bebês com
meses até
pessoas idosas.
Lá, além do
contato com os
demais, eles
têm condições
de desenvolver
suas habilidades,
mesmo com as
limitações impostas
pela falta de visão

Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE

    As artes plásticas, música, dança, encontram mais adeptos favoráveis e apreciadores esforçados em desenvolvê-las sob seus próprios limites. Maria Teresa explora em suas aulas de artes os materiais mais acessíveis aos cegos, como gesso, madeira, barro, para a feitura de esculturas. A pintura fica num plano mais limitado, mas mesmo assim há possibilidade de realizarem algo, até nas próprias cerâmicas. Já Adriano Rodrigues, professor de música, diz que a preferência por essa área é enorme. Apesar de trabalhar há apenas um ano com cegos, ele já conseguiu introduzir vários deles no aprendizado de instrumentos (violão, órgãos, flauta doce, precussão). Recentemente, Adriano conseguiu formar um grupo de flautas (que se autodenomina "Ver com o Coração") que se apresenta em todos os eventos e encontros promovidos pelos deficientes. "Trabalhamos com o desenvolvimento do tato e da audição, essencialmente. O importante das aulas de música, além da descoberta de grandes talentos, que às vezes permanecem ocultos por muito tempo, é manter viva a força de vontade dessas pessoas", enfatiza o professor.
    No que se refere a talento, o Instituto dos cegos estimula seus membros nessa direção. Seja pela força de vontade, seja por aspectos compensatórios, é fato que inúmeros deficientes apresentam não só inteligência, como habilidades, além das observadas como "normais". A entidade mantém um serviço de som que fica entregue aos seus internos. Cada um se exercita por esse sistema, como Luís Carlos do Nascimento, 20 anos, que revela um pendor para a locução. Uma profissão de fonoaudiologia direciona os interessados nos aspectos importantes da oratória, como empostação de voz, afinamento etc. Luis Carlos, como outros internos do Instituto já recebeu convites para trabalhar em rádios locais - alguns acabaram aceitando e hoje são empregados como tal. Luís Carlos, porém, pretende concluir sua formação em Letras para se dedicar à profissão de tradutor e interprete.

Resgate
    Os que possuem escassez do sentido visual - denominados de visão subnormal, - ou os que ainda ficam no meio termo entre a cegueira absoluta e a visão, também recebem treinamento rigoroso como forma de se exercitarem. Maria Salete é quem orienta os deficientes subnormais neste sentido. Ela diz que o exercício constante é uma forma de recuperar os casos possíveis. As atividades, além da escrita e leitura, ficam também entre o desenho e a pintura. O que se pretende conseguir com esses estímulos constantes, segundo Salete, é que cada um resgate sai dignidade e vida de forma mais equilibrada com suas próprias limitações.
    A profissionalização é a meta que o Instituto tenta introjetar na perspectiva de cada deficiente, a forma mais segura de cada um garantir sua autonomia. As etapas percorridas passam pela alfabetização, o aprendizado das atividades cotidianas, locomoção e, por fim, a profissionalização propriamente dita. Os exercícios físicos também são estimulados, contando a entidade com professores de educação física. Os deficientes não se restringem a exercícios localizados, mas pode-se encontrá-los - geralmente, nos finais de semana - praticando esportes em grupos, como uma pelada com uma bola de guizos, por exemplo.     Um sistema telefônico apropriado para deficientes visuais, desenvolvido pelo engenheiro Armando dos Santos Araújo há alguns anos atrás, e atualmente implantado em várias unidades pada cegos, é um dos passos iniciais da etapa da profissionalização. Josélia Almeida esclarece que todos os deficientes devem permanecer algum tempo neste sistema telefônico, uma das exigências da entidade para ajudá-los na busca de uma ocupação.
    Há grupos que desenvolvem suas habilidades manuais, produzindo alguns artefatos. No próprio Instituto funciona duas microempresas, autogeridas pelos próprios cegos. Uma que fábrica bengalas, chegando a exportar para outras localidades do País. E, a outra, já tendo adquirido até sua sede própria. É a Amplice - Associação de Manufaturados e Produtos de Limpeza de Cegos do Ceará, que possui dez membros ativos que fabricam vassouras e repartem os lucros de suas vendas (chegam a fazer até mil peças/dia). Os deficientes trabalham ainda com lixamento, enrolamento de motores, carpintaria em geral, enfim, uma série de atividades que prescindem da visão. A orientação empresarial é dada pelo CEAG, que mantém instrutores permanentemente no Instituto para esclarecer aos deficientes sobre esses aspectos de empreendimentos.

AVANÇO

    Dr. Waldo Pessoa, médico que está a frente do Instituo dos Cegos há 20 anos, não gosta de falar em estatísticas os quadros que se refiram ao problema da deficiência visual no Ceará, por acreditar se tratar mais de ficção do que realidade. "Muitos deficientes visuais são mantidos em casa, sem contato algum com o mundo. O número de crianças cegas é também muito maior do que expressam as estatísticas, por isso, torna-se irreal falar em termos quantitativos. As famílias pobres acabam retendo suas crianças cegas em casa, até a adolescência, quando estas passam a colaborar para aumentar a renda familiar, como pedintes. Por isso, é tão importante estimular o aprendizado profissional, o que aqui fazemos reunindo-os em grupos para realizarem atividades produtivas", enfatiza.
    O médico gosta de deixar claro que o Instituto nunca pretendeu ser um depósito de deficientes visuais, pelo contrário. "Nosso trabalho tem sido o de manter esforços positivos no sentido de ajudar os cegos a se tornarem independentes, fazendo com que se sintam dignos e possam se inserir sem grandes e graves problemas na sociedade" revela.

Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Waldo e Josélia Almeida não acreditam em estatísticas com relação aos cegos: "O número de crianças cegas é muito maior do que expressam as estatísticas", afirmam.
Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE

    Os deficientes, que acabam por seus próprios esforços e talentos natos, se sobressaindo em alguma atividade fora do Instituto são motivos de orgulho para Dr. Waldo Pessoa. E ele aponta outra razão para sua satisfação. A entidade acaba de adquirir, com suas próprias renda, sete aparelhos sofisticados do Japão, para complementar o serviço oftalmológico do Instituto. "Não existe aqui nenhuma sociedade beneficente que tenha conseguido isso. O retinógrafo (que faz uma espécie de radiografia da retina), o ecoautorefrator, o fotocoagulador de argônico são os principais para constatar doenças da retina", explica.

TRANSPLANTE
    Dr. Waldo faz transplantes de córneas, já tendo conseguido devolver a visão há mais de 150 pessoas, até hoje. Ele afirma que os principais problemas oculares que causam cegueira no Ceará são a ambliopia (criança que necessitam usar óculos e vão sofrendo, gradativamentatrofia do nervo ótico), glaucoma congênico e catarata congênita. As doenças infecciosas e a consangüinidade são dois fatores que também aumentam a probalidade de cegueira total durante os primeiros anos da infância.
    O médico diz que é muito difícil tornar uma entidade como essa auto-suficiente. "Atualmente, somos totalmente independentes do governo estadual. Recebemos apenas colaborações periódicas de algumas pessoas, empresários. Mesmo assim, o Instituto se mantém com dificuldade". Ele admite, entretanto, que a compra dessa aparelhagem (que ainda não tem similar no Ceará) facilita a atendimento médico, sobretudo com relação a diagnósticos mais preciosos e rápidos. Um passo a mais para a descoberta precoce de futuros e graves problemas visuais, e nova alternativa para as famílias sem condições de tratamento para seus membros. "Há órgãos mantenedores da miséria absoluta, e o Governo não atenta para isso. A saúde é proprietária, só que as instituições públicas pouco podem fazer sem recursos. É preciso que se crie uma nova consciência para se atender a essas necessidades. O Instituto dos Cegos tem caminhado lentamente no sentido de possibilitar a reintegração social do deficiente, e isso é o mais importante", finaliza.

Pedro Irismar Alencar, apesar de cego,
é formado em História e ensina Matemática

    "Não me chamem de inteligente, mas de esforçado". É assim que Pedro Irismar de Alencar, 39, professor de Matemática do Instituto de Cegos prefere ser considerado. Na verdade, Alencar, como ficou mais conhecido, é um dos casos de deficientes bem dotados.
    Natural de Assaré, interior do estado, Alencar, hoje casado com Leide, também deficiente visual (enxerga apenas vultos, com um progresso de cegueira adiantando) e ambos com um filho normal, (Pedro, de 3 anos), diz que leva uma vida comum, ajuda nos afazeres domésticos, cuida da criança e, à tarde, sai para trabalhar. "Gosto muito de a praia, mas vou raramente, comenta que Alencar é muito caseiro, adora estudar e ouvir música, e isso tem influenciado de forma positiva o filho, que está permanecendo ao lado do pai, querendo realizar também essas atividades.

Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Pedro Alencar e sua mulher, Leide, são deficientes visuais. Têm um filho e procuram levar uma vida normal. Leide faz os serviços domésticos e Alencar ensina Matemática no Instituto dos Cegos.

    Ele lembra que seu processo de cegueira aconteceu, de forma gradual, durante a infância. Como a família não possuía recursos para tratá-lo, ele foi recebendo algumas restrições, mesmo da escola entre os 7 e os 12 anos. "Mas eu fiz tudo o que uma criança normal do interior faz. Quando o problema começou a piorar, eu ficava mais dentro de casa, sob os cuidados de minha mãe, mesmo assim, ainda era muito ativo", revela.
    Os médicos, procurados, na época pela família de Alencar davam diferentes diagnósticos, como glaucoma congênito, catarata. Só mais tarde; enviado ao Rio de Janeiro esclareceram a ele que seu caso se tratava de uma atrofia no nervo óptico, sem recuperação. Ele admite que às vezes se sentia triste, mas que o problema nunca o desanimou ao ponto de deixá-lo inativo ou se maldizendo de sua sorte.
    O pior, em sua adolescência, foi a falta de relacionamento social, pois não podia freqüência as escolas normais. Alencar explica que gostava muito de programas de rádio e que na década de 70 se fixou muito no Projeto Minerva. Em casa, ele recorda que nunca foi tratado pelos pais de forma especial nem com superproteção, mesmo com muitos irmãos e sendo somente ele a apresentar problemas de visão.
    Com a mudança de sua família para Fortaleza, Alencar conseguiu entrar em contato com o Instituto de Cegos. Em 73, alfabetizou-se pelo método Braille e passou a pôr em prática as lições que ouvia pelo rádio. Em 75, começou a cursar o ginasial no Colégio Duque de Caxias, ao mesmo tempo em que se preparava para o Supletivo de 1.º Grau, que realizou no mês de Julho do mesmo ano. Em Dezembro já fazia o Supletivo do 2.º Grau. Alencar foi o primeiro cego a presta vestibular no Ceará, no final de 75 tendo sido o quarto colocado para o curso de História. Após sua formatura, ele ingressou no magistério e logo entrou para o Instituto dos Cegos, para dar aulas de Matemática. "Nunca me senti com dons para a matemática - admite - mesmo assim; resolvi assumir o desafio e penetrar nesta seara. Acho que ninguém pode imaginar a dificuldade que é para um cego, realizar, por exemplo, uma equação de 2.º Grau. É um trabalho de muita paciência".
    Já sua esposa, Leide, não se adequou ao método Braille de leitura. Ela sofre de retinose pigmentar e teve que se submeter a uma cirurgia de catarata, há pouco tempo. Leide se encontra em um estágio bem avançado de deficiência, como ela mesma explica; "Num primeiro momento, vamos perdendo a noção das formas, depois, das cores, até que as imagens vão se apagando totalmente para nós. À noite, tenho cegueira total; de dia, enxergo apenas vultos".
    Isso não a impede de fazer os serviços domésticos e cuidar do filho pequeno. "Ele já percebe que não enxergamos e, às vezes, nos orienta". Sobre as dificuldades de se educar um filho, ela acredita serem muito parecidas para todas as mães e diz que a família de Alencar, que mora ao lado, os ajuda muito. Espirituoso, Alencar diz que o mais importante é não se deixar vencer pelo desânimo. "Isso não nos leva a lugar algum". A revolta e a indignação não resolvem o problema. Eu tenho minhas magoas, mas consigo controlá-las. Continuo cultivando meu espírito grego de aprender e, quanto mais ensino, mais aprendo.
    Ela acha o Instituto uma boa opção para os deficientes, mesmo tendo consciência de suas limitações e defeitos - "como todas as instituições têm". Alencar diz que o órgão alcança apenas uma faixa mínima da população cega do Ceará e que, a maior parte, vive em condições muito difíceis. "O sistema de internato do Instituto deveria ser vem mais amplo, para ajudar as crianças pobres do interior que chegam mais tarde à instituição, já completamente sem visão".

BANCO DE OLHOS
Única esperança de milhares de cegos

    O banco de Olhos do Instituto dos Cegos foi implantado em vista a necessidade de se realizar transplantes e córneas para devolver a visão a alguns casos especiais de cegueira. Até hoje, já foram feitos mais de 150 transplantes no Ceará, no começo realizados de forma precária, ainda por falta do domínio preciso das técnicas e aparelhagem adequada.
    Atualmente, o Banco de Olhos segue uma linha mais independente do Instituto, por determinação do próprio dirigente da entidade, Dr. Waldo Pessoa, que preferiu deixar nas mãos dos próprios interessados (necessitados) e seus familiares o encargo de conseguir doadores. O médico explica que os equívocos eram freqüentes, principalmente por falta de esclarecimento das pessoas que poderiam doar os seus olhos. Como as córneas só podem ser retiradas até seis horas após o falecimento de um possível doador, os familiares quase sempre colocam objeções para que isso efetive. "O preconceito ainda é muito grande quanto a doações de órgãos", ressalta o médico. A Universidade Federal começa a dar apoio à entidade no sentido de promover uma campanha de esclarecimento ao público. "Abra os olhos: meio milhão de pessoas querem ver" está sendo levada adiante desde o ano passado e tem surtido efeito positivo. Até o mês de abril, já foram feitos 24 transplantes, número sensivelmente superior a igual período no ano passado (apenas 7). No momento, há 220 pessoas inscritas no Banco, à espera de sua vez. Dr. Waldo informa que o transplante de córnea é realizado em um olho de uma pessoa de cada vez. O transplantado retorna para a segunda cirurgia somente depois de conseguir um novo doador. "Dessa forma, á possibilidade de se atender a um número maior de necessidade", diz o cirurgião.
    As rejeições orgânicas acontecem em uma percentagem pequena de casos, que freqüentemente são por problemas imunológicos do próprio paciente. O transplante é feito somente quando há o quadro de cegueira corneana que ocorre, em geral, por doenças infecciosas, tumores cerebrais etc. Nestas situações, único caminho é o transplante. Dr. Waldo afirma que os bancos de olhos de todo o país mantêm um sistema de intercâmbio, para atendimento dos casos mais urgentes, que podem ser totalmente recuperados com a cirurgia. Sorocaba, cidade interiorana de São Paulo, é o local mais esclarecido, que registra o maior número de doadores de olhos em todo o Brasil.


Volta página principal Maiores informações:
Volta página anterior envie Mail para Webmaster da SAC