Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Domingo - 02-08-1992
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Sociedade de Assistência aos Cegos cinqüentenária

Entidade inova aparelhagem tecnológica e doações


    Ao atingir 50 anos de fundação, a Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC) caracteriza-se como um símbolo de inovação, segundo o oftalmologista Francisco Waldo Pessoa de Almeida, presidente da instituição. A SAC mantém o Instituto Hélio Góes Ferreira (Instituto dos Cegos), Hospital Alberto Baquite Júnior, a Clínica Otoch Baquite e o Banco de Olhos. A inovação citada pelo Dr. Waldo não está apenas em nível tecnológico, ela também se verifica na nova forma de arrecadar doações.

Foto do Jornal DIÁRIO DO NORDESTE
Dr. Waldo Pessoa mostra os modernos
equipamentos adquiridos pela SAC

    Com o novo sistema, implantado a partir de setembro de 1990, no lugar de apenas esperar as doações voluntárias - que são dificultadas porque a pessoa cadastrada muitas vezes esquece de avisar a família sobre a opção que fez -, os cegos que dependem de uma córnea para poder ver e seus familiares foram incentivados a lutar por uma oportunidade, de forma direta.
    Agora eles se dirigem aos hospitais e tentam sensibilizar as pessoas que perderam algum familiar. Os que não podem participar do novo sistema ficam na fila, à espera de uma segunda córnea proveniente de cada doação. Com essa inovação, os 14 transplantes de 1990 subiram para 58 em 1991 e em 1992, até esse momento são 68 transplantes. Hoje existem 445 pessoas na fila e o número aumenta todos os dias.
    A clínica da Sociedade de Assistência aos Cegos está equipada com o que há de mais moderno em oftalmologia, com diversos equipamentos, capazes de detectar qualquer problema de visão com precisão e rapidez. Mas, ao contrário do que se imagina, a SAC atende, além de consultas particulares e convênios, o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps) e a comunidade em geral.
    Com uma equipe de 14 médicos, são realizadas de 250 a 300 cirurgias mensais. O próprio Dr. Waldo chega a realizar 18 cirurgias num sábado (dia destinado por ele para fazer as cirurgias que não são de urgência). “Nós fazemos medicina de Primeiro Mundo e conseguimos, com ela, sustentar a instituição”, afirma o médico.

HISTÓRIA

    No dia dois de agosto de 1942, durante uma reunião de rotarianos, no Clube Iracema, aconteceu a primeira reunião para discutir a necessidade de assistir aos cegos, a partir daí o grupo começou a fazer reuniões quinzenais - já com o caráter da SAC - e, em novembro do mesmo ano, nasceu o Instituto dos Cegos. Na época, o presidente da Sociedade era o Padre Arquimedes Bruno. Nesse começo, a instituição recebeu muito apoio da Legião Brasileira de Assistência, através do seu superintendente na época, historiador Raimundo Girão Barroso, que também era rotariano.
    No começo, os rotarianos faziam cotas para dar mesadas aos cegos, com o objetivo de impedir que eles fossem para rua pedir esmolas. “A SAC foi a pioneira em dar ao deficiente visual uma escola de conteúdo”, afirma o Dr. Waldo, que faz parte da Sociedade desde 1967 e ocupa a presidência há 12 anos. A SAC oferece educação, profissionalização e prevenção à cegueira. As pessoas assistidas pelo Instituto dos Cegos participam de reuniões mensais (sempre na última quinta-feira do mês), durante as quais são feitas trocas de experiências.
    Os portadores de cegueira definitiva participam de uma escola de conteúdo, onde aprendem a se locomover, inclusive conhecendo a cidade; fazem cursos de datilografia, empalhamento de cadeiras, telefonia e fabricação de vassouras. Hoje existem grupos de atividade produtiva, que trabalham numa fábrica de vassouras. Já estão em fase de implantação outra fábrica de vassouras e uma de empalhamento de cadeiras, que darão emprego a 16 cegos.

PRECONCEITO

    “Mesmo com todo trabalho que temos feito no sentido de integrar os cegos à sociedade, ainda existe muito preconceito”, afirma o médico. Ele lembra o caso de três moças que passaram recentemente em um concurso público para professores, foram classificadas, mas não foram chamadas. De acordo com o Dr. Waldo, a Constituição garante 20% das vagas de concursos públicos para deficientes. “Se a instituição governamental lhes dá o direito de serem professoras, por que não deixar que exerçam a profissão?”, indaga.


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