O SUS tratado a sério

      "A Sociedade mantém-se com recursos próprios. E estes recursos, em grande parte, procedem do SUS (38%) - mais de um terço, portanto, da nossa receita. As tabelas do SUS são de fato de pouco vulto. Mas, como a quantidade de atendidos é grande, representa uma fonte decisiva da nossa receita. O importante é que temos, mensalmente, uma renda certa e paga com presteza, porquanto cuidamos de apresentar relatórios transparentes e comprovados de todas as nossas atividades. Nossas contas raramente são glosadas. Recebemos os pagamentos com normalidade e isto nos permite assumir compromissos, inclusive com fornecedores" - afirma a Dra. Josélia Almeida, presidente da Sociedade de Assistência aos Cegos.
      Os demais recursos da entidade, para manutenção de tão eficiente serviço médico-hospitalar, provêm de convênios com instituições públicas e empresas privadas (30,04%), enquanto o atendimento a particulares alcança cerca de 7,32%. Completam os rendimentos os serviços prestados pelo hospital a clínicas particulares (com o uso de salas e equipamentos cirúrgicos, etc) e pequenas doações de pessoas caridosas (às vezes de, quantias irrisórias - 10,20 reais, das quais são emitidos recibos aos doadores).
      Na opinião da Dra. Josélia, a questão da saúde no Brasil tem muito, ou quase tudo a ver, com gerenciamento. Os recursos são geralmente parcos, mas desde que bem administrados podem apresentar resultados altamente positivos. De que é exemplo o Instituto dos Cegos, administrado e mantido pela Sociedade de Assistência aos Cegos.

Os múltiplos setores de atividades da SAC

      O complexo clínico-hospitalar-educacional do Instituto dos Cegos, sob a responsabilidade da Sociedade de Assistência aos Cegos, está subdividido em áreas, inteiramente mantidas administrativa, financeira e tecnicamente pela entidade.
      São estes as vários setores da conjunto:
      Area de Educação: Instituto de Cegos Dr. Hélio Góes Ferreira, Biblioteca Braille Josélia Almeida, Imprensa Braille Rosa Baquit, Núcleo de Expansão, Atividades de Vida Diária (AVD) e Formação de Docentes Especialistas na Área de Deficiência Visual.
      Área de Saúde: Hospital Alberto Baquit Junior, Unidade Oftalmológica leda Otoch Baquit, Unidade de Prevenção e Combate à Cegueira Cel. José Bezerra de Arruda, Banco de Olhos do Ceará, Residência Médica de Oftalmologia e Biblioteca Médica Oftalmológica Dr. Ferrando de Queiroz Monte.
      Equipe Multidisciplinar: Serviços Social, Oftalmologia, Odontologia, Psicologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Orientação e Mobilidade, Educação Física, Educação Artística - Teatro/Música/Dança/Instrumento e Assistência Alimentar.

O homem por objetivo e a caridade por princípio

Números falam da dimensão de um belo trabalho

      Os números, como sempre, falam mais que as palavras. Eis alguns que ilustram a verdadeira dimensão do trabalho que desenvolve a Sociedade de Assistência aos Cegos:
      (*) Consultas - 22.350, a cargo de 24 médicos especialistas;
      Exames Especiais - 8.985;
      Cirurgias Diversas - 4.312, nas quais atuaram 26 cirurgiões oftalmológicos;
      Banco de olhos - 124 doações, das quais 99 foram retiradas e 90 transplantadas. 2.272 fichas preenchidas por doadores atingidos através de campanhas da entidade e 146 doações espontâneas (fichas catalogadas), 170 pessoas inscritas para receberem transplantes de córneas. 4 (quatro) médicos especialistas em transplantes.
      (*) Todos estes números referem-se ao ano de 1996.
      Vale destacar ainda o avultado número de crianças atendidas pelo setor de Estimulação visual, Estimulação Precoce e Visão subnormal, as quais, através desses estímulos praticados dentro das mais modernas técnicas, têm sua perda visual minimizada ou são encaminhadas ás classes polivalentes da entidade que cuidam de sua adaptação à realidade de sua deficiência.

Estrutura empresarial
Entidade mantém complexo clínico-hospitalar e
educacional modelar

      A Sociedade de Assistência aos Cegos, presentemente, funciona como uma estrutura empresarial. Isto permite que a entidade possa programar seus múltiplos campos de funcionamento a partir das rendas auferidas das suas fontes fundamentais: o atendimento aos segurados do INSS, através do SUS; convênios com diversas instituições públicas e particulares; prestação de serviços a terceiros (aluguel de salas e instrumentos cirúrgicos, consultas particulares, internamentos, etc).
      A Dra. Maria Josélia Sá de Almeida, atual presidente da Sociedade, apresentou um relatório das atividades da SAC em 1996, pelo qual se pode fazer uma avaliação do vulto e da importância do trabalho que vem desenvolvendo a veterana instituição, hoje um moderno centro clínico-hospitalar.
      Assinala o documento: "Há 54 anos esta entidade lida com os setores básicos para o desenvolvimento de todo ser humano: saúde e educação, e vem ao longo desses anos desenvolvendo uma percepção cada vez mais apurada do seu papel como instituição não só na defesa de diretos da pessoa cega, mas também nas ações que visem a plena integração dessas pessoas".
      Destaca o relatório como uma das principais realizações da SAC em 96, o 1° Censo da Pessoa Cega, iniciativa pioneira no Brasil, em parceria com a Associação Cearense de Emissoras de Rádio - ACERT; Lions Clube de Fortaleza/Fátima; Empresa de Correios e Telégrafos e UNIMED, com o apoio da sociedade em geral, graças ao que se tomou possível saber quantos são, onde estão e como vivem as pessoas cegas no Ceará.
      No mesmo exercício de 96 - assinala o Relatório - a SAC informatizou todos os seus setores e, mais uma vez, com pioneirismo, permitiu o acesso da pessoa cega á Informática, através da oferta de cursos permanentes dos DOSVOX 1.3 e 1.4, equipamentos dotados de um sintetizador especial que permite ao deficiente visual trabalhar com o computador, valendo-se do sentido auditivo (o sintetizador de áudio é acoplado ao computador). E fez mais: formou novas professoras especializadas para a área de Deficiência Visual; inaugurou o 1° Núcleo de Expansão exclusivamente destinado á realização das atividades profissionais de seus assistidos, tais como fabricação de vassouras, empalhamento, tapeçaria e bijouteria, além de cursos de Informática, Telefonia, Áudio Locução (há vários locutores ali formados já em atividade profissional), e de câmara escura (revelação fotográfico).
      Aqui vale uma observação atribuída ao Imperador Pedro II depois que, voltando de Paris, um sargento da sua Guarda Pessoal, pai de uma menina cega, fez-lhe uma demonstração do uso do Alfabeto Braille: "A cegueira deixou de ser uma desgraça, para tomar-se apenas um infortúnio".

"Imprensa Braille Rosa Baquit"
Obras didáticas e literárias para uso dos deficientes visuais

      Na SAC, tudo impressiona pela organização e eficiência. Mas alguns setores chamam ainda mais a atenção, como, por exemplo, a "Imprensa Braille Rosa Baquit", uma moderna gráfica, especializada, totalmente computadorizada, que edita todo o material didático e curricular no alfabeto Braille. Todos os deficientes visuais, alunos da Escola da SAC, são assistidos pelo setor, onde atuam 1 (um) programador, 2 (dois) digitadores, 2 (dois) revisores de textos em Braille e 1 (um) encadernador.
      Os serviços executados pela "Imprensa Rosa Baquit" têm caráter, filantrópico. Nada custam aos seus usuários. E graças a eles, funciona de modo perfeito a moderna "Biblioteca Braille Josélia Almeida", com um acervo de 1.386 volumes e 148 títulos, não apenas de livros didáticos do curso mantido pela entidade, mas obras literárias, histórias infantis, textos informativos, reportagens de jornais e revistas, dentre outras ofertas.

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