Ouvidos bem atentos à cada detalhe da explicação do instrutor. Os que vacilam no início recebem palavras de estímulo dos amigos e professores. E depois de algumas orientações básicas, lá se vão eles descer por uma altura de 17 metros seguros por uma corda. A deficiência visual não atrapalha a emoção, já que todos os outros sentidos estão aguçados para absorver aquele instante para a toda a vida. Cada um que consegue chegar ao chão recebe aplausos por quem venceu apenas mais um dos tantos obstáculos, que se colocam à frente das pessoas que possuem algum tipo de deficiência física.

O Projeto Dia Especial, uma parceria entre a Secretaria de Esporte e Juventude e Serviço Social do Comércio (Sesc), proporcionou ontem a 50 crianças e adolescentes, alunos de 1ª a 6ª série, do Instituto dos Cegos uma tarde de aventuras na Colônia de Férias do Sesc Iparana. Além do rapel, os jovens fizeram uma trilha ecológica, durante a qual puderam ter um contato mais próximo com a natureza conhecendo - da forma como eles sabem, tocando, sentindo o cheiro, ouvindo - frutos, animais e plantas. Eles também puderam percorrer uma pista de cordas para a prática de exercícios e à tarde fizeram a parte de recreação na piscina e assistiram à palestras sobre ecologia.

DIA ESPECIAL
A descida em rapel foi uma das atividades praticas ontem por 50
crianças e adolescentes do Instituto dos Cegos, no Sesc Iparana.
A iniciativa foi do projeto Dia Especial, da Secretaria do Esporte
e Juventude e do Sesc. Além do rapel, os jovens fizeram uma
trilha ecológica. Os trabalhos deverão ser expandidos em 2004,
com parcerias.

Os deficientes visuais passaram o
dia praticando rapel e participando
 de uma trilha ecológica no Sesc
Iparana (Foto: Érika Nunes)

O instrutor de rapel Édson Rocha, coordenador de recreação do Sesc, explica que os equipamentos usados para a atividade são os mesmos usados por outros praticantes e todas as regras de segurança são cumpridas. ''Qualquer erro de procedimento, tem uma pessoa lá embaixo da corda segurando'', ressalta. Eduardo dos Santos, de 14 anos, admitiu o nervosismo, mas não resistiu à aventura. ''Tudo indica que vai correr tudo bem'', disse, antes de descer com desenvoltura a altura de 17 metros.

A idéia de levar crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência física a ter um contato mais próximo com a natureza através da prática de esportes foi idealizada por Ariane Carvalhedo, que integra o Núcleo de Esportes de Aventura e Natureza Motor. O projeto, que teve início no início de outubro, já atendeu a duas turmas. No dia 21 de novembro, 50 crianças que estudam na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) participarão da recreação no Sesc Iparana.

TRANQÜILIDADE - Foi ''meio tranqüila'' que Luciana dos Santos dos Anjos,12, encarou o rapel pela primeira vez. Deficiente visual desde que nasceu, Luciana não teve problemas para descrever como imaginava a paisagem do mirante onde fez a descida pelas cordas. ''Aqui parece um lugar bonito que tem muita coisa legal. Um lugar que as pessoas procuram para se sentir em paz''.

SURPRESA - A comemoração do aniversário de Josmar Martins dos Santos foi pra lá de diferente. Pendurado a uma altura de 17 metros, Josmar ouviu os parabéns pelos seus 18 anos que seus amigos fizeram questão de cantar. ''Eu não esperava. Foi uma surpresa''. Portador de ritinose pigmentar, Josmar está apenas há um ano no Instituto dos Cegos.