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Quarta-feira - 23-08-2006

Fortaleza - Ceará - Brasil
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TRAVESSIA PARA CEGOS
Capital tem apenas um sinal adaptado


     Existe apenas um semáforo adaptado para cegos em Fortaleza, situado em frente ao Instituto dos Cegos. Deficientes visuais e profissionais da entidade defendem que para garantir a autonomia desse público é preciso criar condições de acessibilidade

Foto do Jornal O POVO
O SEMÁFORO na Bezerra  de Menezes
 emite um som  para orientar os cegos
 na travessia

     Atravessar uma rua ou avenida é sinônimo de aventura para os deficientes visuais. Guiar-se pelas esquinas e pelo som dos carros são métodos adotados por eles, contudo, algumas medidas relacionadas à sinalização no trânsito poderiam auxiliá-los, evitando acidentes. Em Fortaleza, existe apenas um semáforo adaptado para cegos, que emite sons quando o trânsito está liberado para a travessia, na avenida Bezerra de Meneses, no Monte Castelo, em frente ao Instituto dos Cegos. Mas, para profissionais da entidade, a existência de apenas um equipamento como esse desconsidera o acesso dos deficientes visuais por outros pontos da cidade.

     É isso o que afirma Cláudia Holanda, do serviço social do Instituto dos Cegos. Segundo ela, a atuação da entidade está muito ligada à luta pela independência e cidadania do deficiente visual, mas há muitos entraves a serem superados. Já a professora de orientação e mobilidade, Conceição Lopes, defende que o ideal seria a existência de semáforos adaptados nos principais pontos da cidade. "Por mais que a gente trabalhe a autonomia do aluno, na hora de fazer a travessia, eles se sentem inseguros", disse.

     Para o aposentado e artesão Raimundo Nonato Monteiro da Cruz, 45, que é deficiente visual, a dificuldade maior está no Centro da cidade. "É onde a gente vai mais. Se a gente não tiver alguém para ajudar é difícil, porque muitas pessoas não respeitam (os deficientes visuais) e a gente não pode se aventurar", afirma. Segundo ele, é comum que as pessoas observem o cego fazer toda uma manobra desnecessária, sem ajudá-lo a se situar. Por isso, ele defende que a instalação de semáforos sonoros em pontos estratégicos, principalmente no Centro, seria essencial, pois, dessa forma, o deficiente visual passaria a não depender de alguém.

     Mesmo com a sinalização sonora, Nonato diz não ser fácil atravessar toda a avenida Bezerra de Meneses, na altura do Instituto dos Cegos, onde ele participa de atividades. "Tem que ter precaução. O sinal fecha, mas o carro avança ou pára na faixa de pedestres. Aí tem que desviar. O tempo é só para quem já está acostumado, pois é pouco para atravessar a avenida toda. Quando não dá tempo, precisa esperar outro intervalo no canteiro central para continuar e demora muito", explicou. Além disso, apesar do sinal fechado, ciclistas não param de transitar, o que aumenta o risco de acidentes.

     O presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), Flávio Patrício, afirmou que o problema para a instalação de mais semáforos adaptados para cegos está no contrato firmado com a empresa que fornece o equipamento. Segundo ele, o contrato, que foi firmado desde a gestão anterior, não contempla este tipo de aparelho. "Já consultei o nosso departamento jurídico se nós podemos inserir um aditivo no contrato ou se teremos de fazer uma licitação específica".

     Flávio Patrício informou que num prazo de quinze dias terá uma posição do Departamento Jurídico sobre o assunto. Mas além da questão do contrato, segundo ele, a instalação do semáforo adaptado ainda possui algumas restrições operacionais. "O ideal seria colocar o equipamento em todas as vias da cidade, mas como é muito caro, não dá para ser disseminado e só faz sentido se for em uma via onde tem um tráfego intenso de deficientes visuais".


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