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Jornal O POVO
Sábado
- 16-12-2006

Fortaleza - Ceará - Brasil
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MEDO E REVOLTA
Moradores reclamam de violência na Bezerra


     Luto, revolta e medo. Esse era o clima no Instituto dos Cegos, na clínica do médico Waldo Pessoa e entre os moradores dos arredores da avenida Bezerra de Menezes durante o dia de ontem

Foto do Jornal O POVO
MOVIMENTAÇÃO da Polícia, na manhã  de ontem,
em frente à clínica do médico Waldo Pessoa, morto
após reagir a um assalto na quinta-feira

     Os carros no estacionamento eram pouquíssimos. As portas estavam trancadas e o portão fechado com cadeado. Ninguém circulava pelo Instituto dos Cegos na manhã de ontem, que permanece fechado até segunda-feira. O clima era de luto, revolta. Quem passava por perto fazia questão de cumprimentar o professor Vicente Cristino, que ficou na portaria durante todo o dia. O telefone da recepção também não parava de tocar. Todos queriam prestar solidariedade em razão da morte do médico oftalmologista Francisco Waldo Pessoa de Almeida, presidente da Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC). Sua clínica, na avenida Bezerra de Menezes, também estava vazia e com um cadeado na porta.

     "Foi uma surpresa. Tirar a vida de alguém que trabalhava para melhorar a vida das outras pessoas é um absurdo", relata o professor. A dona de casa de 63 anos, que mora no bairro São Gerardo há 25 anos, conta que ela e o marido foram consultados várias vezes pelo médico e lamentam a morte dele. "Tá todo mundo chocado aqui no bairro. A violência está crescendo de forma agressiva", afirma a senhora que conta também que a segurança de sua casa é reforçada com grades nas janelas e cadeados nas portas. "Se não for assim, a gente não tem coragem de dormir".

     Segundo o relato da moradora, o bairro era calmo. Mas com o crescimento da cidade, o local "mudou muito". Apesar de nunca ter sido assaltada, ela ressalta que a maioria dos familiares já foi abordada por um assaltante. "É muito ruim. A gente anda com medo". Assim como ela, a vendedora de 23 anos que trabalha numa loja na avenida Bezerra de Menezes também teme a violência que se espalhou pelo bairro São Gerardo. A porta da loja está sempre trancada. "Só abro quando aparece um cliente querendo entrar", afirma. E mesmo assim, a jovem ainda tem medo.

     Ela relata que pode ver de "camarote" homens abordando mulheres e roubando suas bolsas. "É constante e elas não podem fazer nada, a não ser entregar tudo". Desde que começou a trabalhar no local, há um ano e meio, ela diz que os casos de violência só aumentaram. "Antes, todas as terças e quintas-feiras tinha policiais aqui na esquina. Aí melhorou, diminuíram as ocorrências. Mas eles deixaram de vir e tudo voltou a ser como era antes".

     O proprietário de um mercadinho que mora e trabalha nas proximidades há 33 anos também costuma ver e ouvir falar de casos diários de assaltos. Com 63 anos, o morador relata que o nível de violência no bairro está "insuportável". Para evitar maiores problemas, ele fecha as portas do mercadinho entre 17h e 18 horas. "Passando desse horário, já é perigoso demais". Como solução, ele pede mais policiamento e punição concreta para os bandidos. "Não adianta prender na hora e soltar depois. Além disso, cadê a polícia nesse bairro? Quase a gente não vê".

     O POVO não publica o nome dos entrevistados por questão de segurança.

"A alma dele irá fazer muita caridade"

     A Delegacia do 3º Distrito Policial (Otávio Bonfim) teve ontem uma manhã bastante movimentada depois que o ex-sargento da PM Antônio Edísio Lima de Souza, réu confesso na morte do médico Waldo Pessoa, foi preso. Em frente à delegacia, algumas senhoras choravam e pediam justiça para o caso.

     Duas delas, Maria Solidade de Oliveira, de 75 anos, e Francisca Matias Pereira, 76, residentes no Otavio Bonfim, disseram ao O POVO que hoje estão enxergando graças a Waldo Pessoa. "Eu vivia quase cega, mas depois que fui operada pelo doutor Waldo, hoje vejo tudo", contou Maria Solidade. Ela e Francisca Matias não acreditam que o acusado fique muito tempo na cadeia. "Logo ele estará no olho da rua", disse Solidade, acrescentando que se sentiu mal, quando soube da morte do médico. "Eu sei que a alma dele irá fazer muita caridade", afirmou, acentuando que conhece muitas pessoas pobres no bairro que foram operados pelo oftalmologista.

     Enquanto as senhoras choraram relembrando o carisma do médico, outras pessoas mostravam-se revoltadas. O mecânico Francisco Edmar Mendes, 45, também residente no bairro Otavio Bonfim, disse que conhecia o médico. "Era uma pessoa bondosa e que fazia muita caridade, principalmente para os mais necessitados", afirmou Mendes, acrescentando também que conhece algumas pessoas no bairro que foram operadas por ele. O sentimento de revolta também era observado em outras pessoas em frente ao 3º Distrito Policial. O trânsito na avenida Bezerra de Menezes chegou a ficar congestionado por causa do grande número de pessoas em frente à delegacia.

     O Superintendente da Polícia Civil, delegado José Nival Freire, chegou à delegacia por volta das 8 horas. Ele acompanhou as diligências que culminaram com a prisão do ex-PM. "Foi uma resposta da Polícia na hora certa", disse Nival Freire, acrescentando que pode haver mais outra pessoa envolvida no caso. O delegado Jairo Pequeno disse que o ex-sargento será encaminhado ainda hoje para a Delegacia de Capturas e Polinter. "Não é bom ele ficar recolhido aqui na Delegacia devido à repercussão que obteve a morte do médico Waldo Pessoa. O lugar dele é mesmo o presídio", avaliou Jairo Pequeno. As testemunhas que presenciaram o caso prestaram depoimento na Delegacia do 3º DP.

CAPA DO JORNAL O POVO DO DIA 16/12/2006
CAPA DO JORNAL O POVO DO DIA 16/12/2006


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