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Terça-feira
- 19-12-2006

Fortaleza - Ceará - Brasil
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A VIOLÊNCIA E SUAS CAUSAS


HEITOR FÉRRER

Não nos iludamos, o Brasil é um país essencialmente corrupto, desigual e injusto. A corrupção é universal, mas a impunidade é genuinamente brasileira. Basta correr o olho e ver os resultados de nossas CPI’s e a absolvição de graúdos criminosos. Na corrupção impune está a origem de quase todas as mazelas da humanidade. Estamos todos assustados, inseguros e indignados com o grau de violência que se alastra por todo o País, sem que percebamos, a curto, médio ou longo prazo, qualquer atitude por parte das autoridades constituídas para solucionar este pesadelo nacional. Vivemos uma guerra civil! O número de homicídios no Ceará aumentou 110% em uma década (1994 a 2004). Saímos de uma já selvagem taxa anual de 9,5 homicídios para cada 100 mil habitantes para 20 em 2004. Entre os jovens (15 a 24 anos), esta taxa é ainda maior. Saltamos, em apenas uma década, de 14,4 homicídios para cada 100 mil habitantes para 34,6. Uma elevação de 140%! Este é o mapa da violência em que estamos circunscritos. Com estes números, a violência virou epidemia, se democratizou, tem vindo para os bairros nobres de nossa capital, atingindo nossa elite, alguns bem aquinhoados que gritam, com razão, por soluções governamentais. E por que gritam apenas para se solucionar o problema da violência? Sendo certo que esta é apenas uma conseqüência de inúmeras negligências e irresponsabilidades do poder público, ausente em áreas cruciais, constitucionalmente obrigado a atuar. Por que não cobram, com a mesma indignação, uma escola pública de qualidade, uma saúde mais eficiente para todos, o fim do déficit habitacional? Por que não reclamam e cobram saneamento básico e água de qualidade? Por que não cobram política pública de geração de emprego e renda? Fácil a resposta! Por que cobrar uma escola pública de qualidade, se podem pagar o colégio particular? Por que cobrar uma boa saúde pública, se podem pagar qualquer um desses inúmeros planos de saúde? Por que cobrar moradia popular, se podem comprar caríssimos apartamentos na Beira-Mar, Aldeota, Meireles, Papicu, etc.? Por que cobrar política pública de emprego e renda se já detém quase toda a riqueza nacional? E por que cobram "segurança"??? Porque não há como tê-la se não for dada pelo Estado. Não há como comprá-la com a mesma simplicidade e garantia como se compra o plano de saúde, a escola particular, o apartamento na Aldeota, a água mineral engarrafada. Sem a presença do Estado toda segurança é precária. Mesmo podendo pagar segurança privada, ela não é 100% eficiente, além de constranger e tirar a privacidade. Portanto, a cobrança veemente por segurança é egoística, pontual. A insegurança e sua forma mais cruel, a violência, são frutos de uma sociedade complacente com governantes corruptos e medíocres sem políticas públicas eficientes de saúde, educação, moradia, emprego e saneamento. Sem isso, em Estados pobres, criam-se legiões de excluídos, que deveriam gozar dos mesmos direitos e deveres dessa minoria privilegiada. Estes excluídos, filhos de um Estado negligente, se marginalizaram e se marginalizam a cada segundo. São homens e mulheres iguais a nós, violados pelo ente público, em seus mais básicos e fundamentais direitos, que estão se transformando em "animais que falam", pulverizados em todas as esquinas de nossa cidade, buscando o que lhes foi negado pelo Estado e por uma sociedade que não quer repartir. E nesta busca perdem a noção do razoável. Roubam, estupram, seqüestram, matam! Matam inocentes, crianças, idosos, pessoas em plena atividade de vida. Matam um Dr. Waldo Pessoa, um instrumento de Deus, um carpinteiro da humanidade, um construtor da boa vontade e da solidariedade. Amanhã, ele será apenas estatística. Nos níveis em que a violência chegou, há de se pedir punição severa para os que delinqüem e isto é para "ontem". Não agüentamos mais! Associado à punição severa, com policiais também pulverizados nas esquinas, não lograremos êxito se não cobrarmos dos que gerenciam nosso dinheiro a priorização, sem enganação, dos setores essenciais ao desenvolvimento e equilíbrio da sociedade: educação, saúde, emprego, moradia e saneamento. Fazendo isto não teremos excluídos nem marginalizados, nem precisaremos de policiais em cada esquina. Teremos segurança, equilíbrio e justiça social. Teremos PAZ!

Nota de esclarecimento:
O Médico Waldo Pessoa era Presidente da Sociedade de Assistência aos Cegos - SAC na época que foi brutalmente assassinado.


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