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Sexta-feira - 17-10-2008
Fortaleza - Ceará - Brasil
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Vida & Arte Viu
Outros sentidos


Uma sessão de cinema com audiodescrição em Fortaleza aconteceu como parte da programação da 3ª mostra cinema e direitos humanos na América do Sul

      Na saída do cinema, um grupo de amigos se reúne para comentar o filme recém-assistido. José Soares, 39 anos, joga na roda que previu desde o início o fim de Os Esquecidos (1950), do cineasta espanhol Luís BuÀuel. Fazia três anos que Soares não visitava o escurinho do cinema. A cegueira o havia afastado da sétima arte. Na tarde da última quarta-feira, ele viveu pela primeira vez a experiência de ver um filme descrito do início ao fim no Cine Benjamin Abrahão, na Casa Amarela. O episódio fez parte da 3ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, que reservou uma de suas sessões exclusivamente para uma projeção com áudiodescrição.

Foto do Jornal O POVO

      O recurso ainda é pouco comum no Brasil. Por meio dele, as pessoas com deficiência visual podem compreender não só os diálogos dos personagens, mas também a disposição deles na cena, como estão vestidos, suas ações e reações. "Você consegue construir todo o plano na cabeça", afirma Luiz Antônio, 41 anos, integrante da Sociedade de Assistência aos Cegos. Geralmente, a áudiodescrição se dá por meio de tradução simultânea via fones de ouvido. No entanto, no Ceará, o recurso foi inserido na própria cópia do filme de BuÀuel.

      Por conta disso, todos que participaram da sessão tiveram a possibilidade de passar pela mesma experiência. Vendas pretas foram distribuídas na entrada para que o público em geral pudesse ver como funcionava o processo. A descrição dá conta de absolutamente todas as ações mostradas na cena. Às vezes, os momentos envolvem tanta informação que a descrição fica corrida. De início, ver um filme somente com palavras causa estranhamento. No entanto, em pouco tempo você se esquece da experiência visual e se vê embalado pela obra.

      "Eu fiquei me perguntando qual seria o tamanho daqueles garotos. Eram só duas vozes que se alternavam para todos os personagens, então não dava para ter muita idéia disso. De qualquer forma, foi bom não ter que perguntar o tempo todo pro vizinho o que estava acontecendo", afirma Luiz Antônio.

SERVIÇO
      3ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul - O evento segue até domingo no Cine Benjamin Abrahão, na Casa Amarela Eusélio Oliveira. Hoje, as sessões começam às 14h. No sábado e domingo, às 16h. As exibições prosseguem até às 22h. Info: 3366

E-MAIS
      O Departamento de Letras da Uece pesquisa desde 2005 formas de inclusão de pessoas com deficiência visual no cinema e no teatro. O grupo de estudos coordenado pela professora Vera Lúcia Santiago em parceria com a Associação Mídia Acessiva (Midiace) já desenvolveu projetos de áudiodescrição com curtas-metragens como Águas de Romanza, de Patrícia Baía e Gláucia Soares. Atualmente, o grupo trabalha na áudiodescrição do longa-metragem Mutum, de Sandra Kogut, e O Grão, do cearense Petrus Cariry. De acordo com Bruna Leão, estudante de Letras e integrante da pesquisa, a idéia é lançar uma cópia com audiodescrição no mesmo período em que o filme chegar aos cinemas. A previsão é que isso aconteça no início do próximo ano. Uma campanha pernambucana também requer acessibilidade no cinemas às pessoas com deficiência auditiva. Ela reivindica a legendagem de filmes nacionais. Mais informações podem ser obtidas no site http://www.legendanacional.com.br/.


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