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Domingo - 28-06-2009
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Ciência & Saúde
Quando tudo fica nublado


O assunto desta semana interessa a todos. Especialistas costumam dizer que quem viver o suficiente terá catarata, a maior causa de cegueira curável no mundo

      Se você tem mais de 55 anos e está tendo dificuldade em enxergar com nitidez, é bom ficar atento. A imagem borrada ou distorcida é um dos sintomas da catarata, a maior causa de cegueira curável do mundo. Mas ninguém precisa ficar assustado. Na maioria das vezes, o distúrbio ocular é uma consequência natural do envelhecimento. Além disso, a cirurgia de catarata evoluiu nos últimos anos e o procedimento ficou rápido e seguro, garantindo conforto ao paciente.

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      A principal causa da catarata é o envelhecimento do cristalino, uma lente transparente que fica no interior do olho (atrás da pupila) e que é responsável pelo ajuste do foco das imagens que vemos. Com o passar dos anos, essa lente vai ficando opaca, o que acaba bloqueando a passagem de luz para a retina, onde a imagem é formada.

      “O cristalino vai perdendo a transparência e a elasticidade com o tempo. É um processo natural que ocorre com mais frequência depois dos 55 anos de idade”, informa o oftalmologista Álvaro Fernandes, que trabalha na Sociedade de Assistência aos Cegos, mais conhecida como Instituto dos Cegos.

      A catarata se desenvolve aos poucos. Em estágio inicial, a perda da qualidade visual é discreta. À medida que a doença avança, a visão vai ficando mais turva e embaçada, comprometendo atividades cotidianas como ler e dirigir. “É como se tivesse o tempo todo nublado”, compara o oftalmologista Newton de Andrade, diretor do Hospital de Olhos Leiria de Andrade, em Fortaleza.

      Quem tem catarata enxerga como se estivesse olhando por meio de um vidro sujo ou como se existisse uma névoa constante diante dos olhos. A perda total da visão ocorre no estágio mais avançado da catarata. Mas os especialistas lembram que a cegueira é reversível. A única forma de tratamento é a cirurgia. Nela, o médico substitui o cristalino opaco por uma lente artificial. Nas técnicas mais modernas, a anestesia é com colírio, sem necessidade de injeção, e o corte é mínimo.

      Novas lentes intraoculares também têm garantido mais conforto aos pacientes. Além de resolver a questão da catarata, elas corrigem outros problemas na vista, como astigmatismo, miopia e hipermetropia. Em alguns casos, o paciente nem precisa mais usar óculos.

      Especialistas lembram que, embora a causa mais comum seja o envelhecimento, a catarata também pode ocorrer em outras faixas etárias. Ela pode ser congênita (quando o bebê nasce com a doença) ou ainda ser provocada por outros fatores, como uso de colírios com corticoides, inflamações ou por acidentes que causam traumatismo nos olhos, como os que acontecem no trânsito.

      Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada ano, no Brasil, são diagnosticados 100 mil novos casos de catarata. No mundo todo, a estimativa da OMS é de que, até 2020, o número de pessoas acometidas pela doença chegará a 40 milhões.

Novas técnicas

Tecnologia garante rapidez e conforto

A cirurgia de catarata evoluiu muito nos últimos anos. Uma nova técnica reduziu o tamanho do corte no olho, levando mais conforto para os pacientes, que, agora, se recuperam mais rapidamente e sem a necessidade de pontos cirúrgicos

      O único tratamento para a catarata é mesmo a cirurgia. Mas ninguém precisa ficar assustado. Técnicas modernas deixaram o procedimento mais rápido e com menos transtornos para o paciente. Na cirurgia, que dura de dez a trinta minutos, o cristalino danificado é substituído por uma lente artificial. O corte é mínimo.

      “Antes, a gente precisava retirar a catarata inteira. A incisão era maior. Hoje, você fragmenta o cristalino com uma caneta de ultrassom e aspira os pedacinhos da catarata com um corte pequeno”, resume Álvaro Fernandes, oftalmologista que trabalha na Sociedade de Assistência aos Cegos, mais conhecida como Instituto dos Cegos.

      Essa caneta de ultrassom faz parte da técnica chamada de facoemulsificação, que revolucionou a cirurgia de catarata. A principal vantagem dela é o corte pequeno, de menos de 3 milímetros, que dispensa suturas (pontos cirúrgicos). “Sem a facoemulsificação, o corte é maior, de 11 a 13 milímetros”, compara o oftalmologista Newton Andrade, diretor do Hospital de Olhos Leiria de Andrade, em Fortaleza.

      “Antigamente, quando se fazia cirurgia com incisão maior, precisava de pontos e a recuperação demorava mais, cerca de dois meses. Hoje, é de 15 a 30 dias. O restabelecimento da visão é mais rápido e o olho fica menos inflamado”, acrescenta Álvaro Fernandes. Na nova técnica, o médico faz uma pequena abertura no olho do paciente e, com o aparelho facoemulsificador quebra o cristalino em vários pedaços, aspirando o material.

      Depois, é colocada uma lente artificial, que entra dobrada no orifício, retomando sua forma original em seguida. Outra vantagem dessa técnica é que a anestesia local pode ser aplicada por meio de colírio, sem injeção. Embora seja considerada tranquila, a cirurgia e o pós-operatório exigem cuidados.

      “O olho é uma parte do corpo muito delicada. A recuperação é rápida, mas tem de ter repouso, evitar certos alimentos mais indigestos, não pegar peso, evitar passar a mão nos olhos, usar a medicação prescrita pelo seu médico”, enumera Newton.

      Recomendações que a aposentada Francisca Oliveira, 81, seguiu à risca. “A recuperação foi rápida. No dia seguinte, a vista já começou a ficar boa, estava enxergando bem as coisas”, conta Francisca, que teve os dois olhos operados no ano passado. A cirurgia foi pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Foi rápida, durou poucos minutos”, diz.

Como a imagem se forma

> Em um olho sadio, o cristalino transmite a luz para a retina, mas o desenvolvimento da catarata, a visão torna-se opaca. A doença pode levar a cegueira do olho afetado.

 

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E-Mais

> É comum que a catarata senil (causada pelo envelhecimento) seja bilateral, ou seja, aconteça nos dois olhos, em momentos distintos da vida ou simultaneamente.

>Segundo os especialistas, o risco da lente intraoc ular se deslocar depois de implantada é praticamente zero.

> O diagnóstico de catarata é feito pelo oftalmologista por meio de exames. Se você tem mais de 50 anos, é bom procurar um especialista.

> A rede pública já oferece cirurgia de catarata com a técnica da facoemulsificação.

FIQUE DE OLHO

> Não use colírios, especialmente os que contêm corticoides, sem recomendação médica e respeite o prazo determinado pelo médico para aplicação do medicamento.

> Procure um oftalmologista imed iatamente se notar qualquer inflamação ou sofrer algum trauma na região dos olhos.

> Use óculos escuros que tenham proteção contra raios ultravioleta. A incidência deles é um dos fatores que causa a opacidade do cristalino.

> Consulte também o médico sempre que notar alguma alteração visual. A evolução da catarata é lenta, pode ocorrer primeiro em um dos olhos e a pessoa vai se acostumando.

Tarefa árdua

Procura é maior que a oferta

Procurar a rede pública atrás de uma cirurgia de catarata é uma tarefa árdua. A procura é grande o que provoca uma enorme fila e uma espera angustiante. No Instituto dos Cegos o número de pessoas que aguardam a hora da cirurgia já chega a quase três mil

      Na rede pública, a fila de espera pela cirurgia de catarata é grande. Para se ter ideia, somente na Sociedade de Assistência aos Cegos, mais conhecida como Instituto dos Cegos, 2.998 pessoas aguardam pelo procedimento. “Tem gente esperando há mais de um ano. É complicado”, diz Josélia Almeida, presidente do Instituto.

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VISTA LIMPA

Há três meses, o aposentado Estanistau Azevedo, 71, passou por uma cirurgia de catarata no olho direito. "Durou só 16 minutos, contados no relógio", admira-se. Ele afirma que o pós-operatório foi tranquilo. "A vista ficou boa, limpa", diz, se referindo ao olho direito. O esquerdo, que também apresentou catarata, ainda precisa ser operado. "Nesse outro, a vista é meio amarelada", compara.

      Ela informa que, mensalmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza uma cota para esse tipo de cirurgia. “O problema é que essa cota varia. O ideal seria que fosse fixa. No mês de fevereiro, por exemplo, foi zero”, comenta.

      Josélia também reclama que a cota a que o Instituto tem direito só é informada “em cima da hora.” “A gente tem de correr atrás dos pacientes, estruturar os médicos. É complicado”, diz.

      Segundo o titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Alex Mont’Alverne, o problema é outro. “Ele (Instituto dos Cegos) tem uma cota, mas nunca realiza as cirurgias”, afirma. Conforme o secretário, no mês de fevereiro a cota foi zero porque “ainda tinha muita gente pra operar do mês anterior.”

      Alex argumenta ainda que o número da fila de espera para cirurgia de catarata no Estado “não é real.” Segundo ele, no fim do ano passado, as unidades de saúde que realizam o procedimento comunicaram à SMS que, ao todo, havia 15 mil pessoas nessa fila. “Mas é menos”, garante. Ele afirma ainda que, desde novembro do ano passado, vêm sendo realizados mutirões, tendo sido operados 7.700 pacientes.

10 CUIDADOS ANTES E DEPOIS DA CIRURGIA

1. Não usar nenhuma maquiagem ou creme no rosto no dia da cirurgia.

2. Durma com o protetor ocular durante 3 dias. Não durma encostando o olho operado no travesseiro.

3. Não carregar peso nem abaixar a cabeça durante 5 dias após a cirurgia.

4. Não cozinhar durante 5 dias (evitar vapor nos olhos)

5. Durante uma semana, não esfregue, aperte ou coce os olhos. Se ocorrer lacrimejamento, use lenço de papel descartável.

6. Durante um mês, utilize óculos escuros sem grau sempre que sair de casa ou do trabalho.

7. Não nade ou tome sauna no primeiro mês.

8. Não dirija no dia da cirurgia ou até sentir segurança.

9. Não tome banho até 24 horas após a cirurgia.

10. Evite aglomerações (ônibus, boates, esportes coletivos, etc) no primeiro mês pós operatório para reduzir o risco de traumas oculares.


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