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Jornal O POVO
Quinta-feira - 06-08-1998

Fortaleza - Ceará - Brasil
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Manifestação da família não afetará captação de órgãos


Os médicos das equipes de transplantes do Ceará dizem que decisão do MS, em assegurar direito de manifestação da família, não vai afetar a captação de órgãos.

A Lei de Transplantes, em vigor há um ano e meio, não se resume apenas a doação presumida, mas também estabelece critérios para captação, implantou a listagem única e as centrais. A decisão do Ministério da Saúde (MS) em assegurar, por meio de medida provisória, o direito de manifestação da família do paciente não vai alterar a captação, uma vez que essa prática já vem sendo adotada. Pelo menos essa é a opinião dos médicos dos Centros de Transplantes do Ceará.

No Estado, aproximadamente 879 pessoas, entre doentes renais crônicos, cardíacos e portadores de deficiência visual, estão preparadas para cirurgia, mas aguardam órgãos. De acordo com a Lei de Transplante é considerado automaticamente doador de órgãos para fins de transplante todo o indivíduo que não manifestou em vida o desejo de não doar. Essa manifestação pode ser feita nas carteiras de identidade e de motorista.

O chefe da Unidade de Transplante Renal do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Ronaldo Esmeraldo, diz que a decisão do MS apenas oficializa o que as equipes já estão fazendo. Ele observa que a medida não prejudica, pelo contrário, retira da lei o único ponto polêmico que é a doação presumida. "As famílias vão ficar mais tranqüila".

Para o coordenador de Transplante de Coração dos Hospitais Antônio Prudente e de Messejana, Juan Alberto Mejia, a sociedade está aceitando melhor a lei e o que é necessário nesse momento é a realização de uma ampla campanha esclarecendo a população sobre o que seja morte encefálica. Ele também não vê problema em depender da autorização da família do paciente para fazer a retirada dos órgãos. "As pessoas precisam ser sensibilizadas e mais solidárias".

A estudante Raquel Menezes Tavares, 20, é uma candidata ao transplante renal com doador cadáver. Ela defende que a retirada dos órgãos seja feita como prevê a lei, respeitando a vontade manifestada pela pessoa em vida. Raquel diz que tem esperança de um dia levar uma vida normal, pois agora tudo que faz é estudar, mesmo assim com dificuldade. Três vezes por semana vai ao HGF fazer hemodiálise.

O diretor de Saúde da Sociedade de Assistência aos Cegos, Valdo Pessoa, lembra que a família sempre é respeitada e não acredita que a medida do Ministério prejudique a lei. Eugênia Filizola, uma das coordenadoras da Central de Transplante do Ceará, diz não considerar retrocesso o fato de ser assegurado aos familiares do paciente o direito de se manifestar.

Ela ressalta que a população precisa confiar e acreditar que a listagem única de candidatos ao transplante é respeitada e que o Sistema Nacional de Captação do MS controla todas as centrais. Diariamente, é enviado relatório de atividades da unidade estadual informando as notificações do dia, quem saiu da lista.


Equipe é treinada para fazer transplante hepático

Até o final deste mês, o Laboratório Microcirurgia Experimental de Transplante Hepático do Hospital Universitário Walter Cantídio (Hospital das Clínicas) já estará funcionando. A unidade está sendo estruturada para fazer experiências em porcos, pois apresentam semelhanças fisiológicas com o homem. A primeira cirurgia em animal foi realizada, em maio último, por uma equipe de São Paulo como parte do treinamento dos médicos cearenses que atuarão nessa área.

O diretor médico do Hospital das Clínicas, Eugênio Lincoln, diz que o laboratório é o passo inicial para que se forme equipes especializadas para transplante hepático, mas o procedimento em ser humano só deverá ser feito no início do próximo milênio.

Ele explica que além de profissionais preparados, é necessário dispor de uma boa estrutura hospitalar para o pré e pós-operatório, medicamentos e condições para acompanhar o paciente transplantado. Lincoln observa que com os recursos do Reforsus será concluída a obra do centro cirúrgico do Hospital das Clínicas. "Isso aumenta a perspectiva de fazer o transplante".

Para os portadores de doenças congênitas do fígado, cirrose e hepatite crônica, o transplante é o melhor tratamento. Como no Ceará ainda não se faz esse tipo de cirurgia, os doentes têm que recorrer aos centros localizados em Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. Esse procedimento custa em torno de 30 mil dólares.

Segundo ele, mesmos os médicos que possuem doutorado terão que se submeter a um treinamento específico cujo tempo de duração varia de seis meses a um ano. Ele lembra que no laboratório experimental a equipe vai começar a transplantar fígado de um animal para outro. O médico diz que os equipamentos da unidade já chegaram e a obra do prédio está na fase final.


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