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Sociedade de Assistência aos Cegos - SAC
Ano II - Nº 88 - Fortaleza, 18 de Outubro de 1999
Boletim diário editado e impresso em braille e tinta na
Imprensa Braille Rosa Baquit
Fortaleza - Ceará - Brasil
http://www.sac.org.br


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Bom dia leitor

O Futuro está aqui!

    Os tempos modernos colocaram a Sociedade de Assistência aos Cegos diante de informações e desafios inimagináveis no jornal SAC na ponta dos dedos. A modernização do Jornal, hoje adestrado em buscar temas que facilitem o acesso à informação a qualquer momento. Impuseram às publicações o nosso estilo de trabalho.
    Temos de estar sempre preocupados com novas tendências, procurar angulações mais criativas de ensino já conhecidas, tudo para atrair a aprendizagem, bombardeando o aluno constantemente de informações.
    Dentre desse espírito e sem esquecer o mais importante do noticiário a Educação, mergulhando com afinco ao tema e o resultado da empreitada na educação foi dos melhores.
    Entre esses resultados, temos como avanços a sala de Jardim I B Visão Subnormal e a Sala de Reabilitação. Lendo essa edição do jornalzinho, você vai descobrir o mundo do saber, conhecendo essas salas em todo seu processo educativo.

Joseana Lopes Gomes
Professora do Instituto de Cegos Dr. Hélio Góes Ferreira

"Quando nasce uma criança, compreendemos
que Deus ainda tem Fé nos Homens".
(Terezinha)

Conhecendo o Jardim I B - Visão Subnormal

    A fase preparatória é muito importante na vida escolar da criança deficiente visual. É, pois, fundamental que o profissional que trabalhe com a criança portadora de deficiência visual esteja o mais preparado e consciente possível, para que realize um trabalho eficiente a fim de alcançar os objetivos a que este se propõe.
    A Sociedade de Assistência aos Cegos, na sala de Jardim I B Visão Subnormal (estágio), tem 9 crianças matriculadas e freqüentando a Escola no Turno da Manhã; dentre essas, duas crianças estão em processo de adaptação e existem também crianças que tem deficiências múltiplas - por exemplo, deficiência visual associada a paralisia cerebral - e aluno portador de epilepsia.
    Essa sala foi preparada visando contribuir para a educação da criança portadora de deficiência durante sua fase preparatória. Dentre os estudos selecionados as áreas afins de:
    - Psicomotricidade - que trata dos movimentos, conceito do cargo, como também direcionalidade.
    - Treinamento na área sensorial como por exemplo: percepção, identificação, discriminação, localização, memória auditiva, exploração de reconhecimento, manipulação, independência, defesa, autonomia desempenho.
    - Atividades de vida diária: Treinamento de visão Subnormal, Educação Física, Dinamização, músicas, atividades de leitura, Psicologia.
    - Atividades para desenvolver a memória, ordem, seqüência lógica (através de jogos pedagógicos)
    - Trabalhando a socialização, criatividade, semelhanças e diferenças e aprender brincando.
    Levando em conta essas características e buscando concretizar o máximo possível a aprendizagem, usando criatividade com responsabilidade, tenho certeza de que nossa turma obterá sucesso!

Os Direitos da Criança

    1. A criança deve ter condição para desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e socialmente, com liberdade e dignidade.
    2. A criança tem direito a um nome e a uma nacionalidade, desde seu nascimento.
    3. A criança tem direito à alimentação, moradia, lazer e serviços médicos adequados.
    4. A criança prejudicada física ou mentalmente deve receber tratamento, educação e cuidados especiais.
    5. A criança deve crescer amparada por seus pais e sob sua responsabilidade, num ambiente de afeto e de segurança.
    6. A criança tem direito à educação gratuita e obrigatória, ao menos nas etapas elementares.
    7. A criança, em todas as circunstâncias, deve estar entre os primeiros a receber proteção e socorro.
    8. A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono e exploração. Não deverá trabalhar antes de uma idade adequada.
    9. A criança deve ser protegida contra práticas de discriminação racial, religiosa ou de qualquer índole.
    10. A criança deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade, fraternidade e paz entre os povos.

    Declaração dos Direitos da Criança aprovado pela ONU em 20 de novembro de 1959.

Conhecendo a Sala de Reabilitação

    A Escola que tem um compromisso social vai muito além da mera transmissão de informações como instituição de educação; precisa criar um contexto em que os valores éticos se desenvolvam nos estudantes.
    Além de um conjunto de valores que toda escola precisa trabalhar em busca da formação para a cidadania como honestidade, responsabilidade, coleguismo e cooperação, a escola, como instituição de Educação e Ensino, se propõe a criar melhores condições para que os processos de ensino e de aprendizagem se desenvolvam de maneira eficiente e eficaz.
    Na Sociedade de Assistência aos Cegos foi constituída a Sala de Reabilitação que faz atendimentos a 11 alunos devidamente matriculados e freqüentando, para se reabilitarem aprendendo o Braille, Sorobã, Dosvox, cursos profissionalizantes, Orientação e Mobilidade, Atividades de Vida Diária e assim capacitados poderem exercer as funções que antes de perderem a visão realizavam.
    Consciente dessa tarefa de formar esse cidadão para participar da sociedade, está preparada toda Equipe Multidisciplinar: professores e técnicos, dispostos a alcançar seus objetivos de ensino e adequar esse aluno ao contexto social que por vezes o discrimina, mostrando assim que o D.V. é tão capaz quanto o indivíduo dito "normal".
    Diante desse aspecto, o aluno visa:
    - num esforço constante aproveitar as condições criadas pelo profissional do ensino em busca da construção cada vez mais ampla e profunda de seu próprio saber.
    - A contínua busca de autonomia no processo de aprendizagem, isto é, de uma capacidade de análise crítica dos conhecimentos propostos e da elaboração pessoal de novos conhecimentos.
    - Por um espaço constante de superação de seus próprios limites, não se contentando com o mínimo de produção intelectual, mas buscando o máximo da mesma.
    Nesse contexto:
    O professor é o profissional de ensino. Ensinar, no enfoque adotado pela escola é criar condições favoráveis para que o aluno desenvolva suas relações com o conhecimento já construído através dos tempos pela sociedade e construa sua própria representação destas relações, isto é, construa seu próprio conhecimento.
    Portanto, o aluno é o produtor do conhecimento e o professor o catalizador do processo de aprendizagem.

A paz está ameaçada, cada
vez que vida um direito
da pessoa humana.
(J. Paulo II)

Você Sabia...

    Educação formal é o processo de crescimento e aquisição de conhecimento e habilidades que acontece na escola.

O sábio que não diz o que sabe é como
uma nuvem que passa e não traz chuva.
(Provérbio Árabe)

Espaço Aberto
Menino de Rua

    Sou como a brisa fria da manhã
    que vaga no espaço.
    Sou recriminado pelo que sou,
    pelo que faço,
    Sou como o vento impetuoso
    que não pára de soprar.
    Não tenho pousada,
    nem onde morar.

    Sou como uma folha seca
    que se separou de outras verdes,
    caindo na brisa mansa.
    Não tenho amigos, nem carinho ou esperança.

    Sofro de sede e fome,
    sou chamado moleque vadio.
    Na negra escuridão da noite choro de frio.

    Sou temido, rejeitado, excluído,
    Aqui na terra; não nos céus.
    Disso eu tenho certeza,
    pois sou filho de Deus.

Elias de Oliveira

Louis Braille
O criador do Sistema Braille

    A história de Louis Braille é a de um homem que conseguiu muito lentamente o reconhecimento do valor de sua obra. Durante a sua vida, seu sistema só foi conhecido na escola onde ele estudou e foi professor. De início, as pessoas relutaram muito em mudar os métodos insatisfatórios usados para educar as pessoas cegas. Foi apenas no fim da vida que o uso de seu sistema começou a se expandir. E, mesmo assim, a significância de sua realização permaneceu obscura para o mundo durante muitos anos.
   
Louis Braille nasceu em quatro de janeiro de 1809, na pequena cidade francesa de Coupvray, pertencente ao distrito de Seine-Marne, situado a cerca de 45 km de Paris. No ano de 1812, ao brincar como de costume na oficina de seu pai, feriu seu olho esquerdo ao tentar perfurar um pedaço de couro com um objeto pontiagudo, causando grave hemorragia. O ferimento infeccionou e não havia auxílio médico eficaz para eliminar o centro da infecção. Veio a conjuntivite e depois a oftalmia. Alguns meses mais tarde, a infecção atingiu o outro olho, e a cegueira total adveio quando Louis estava com 5 anos. Seus pais ainda tentaram vários tratamentos, consultaram vários oculistas, inclusive em cidades vizinhas, mas todos os esforços foram em vão, pois a infecção generalizada havia destruído ambas as córneas.
    Mesmo convivendo com a cegueira, Louis era um estudante exemplar: decorava e recitava as lições que ouvia, confundindo seus professores com sua inteligência brilhante.
    Aos 10 anos, Louis Braille consegue uma bolsa de estudos na Instituição Real para Jovens Cegos, a primeira escola para cegos de Paris. Na Instituição, o ensino consistia em fazer os alunos repetirem as explicações e os textos ouvidos. Alguns livros escritos no sistema de Valentin Haüy, método oficial de leitura para cegos da época, permitiam leitura suplementar. Esses poucos livros eram os únicos existentes. Louis dedicou-se profundamente aos estudos, mas a recreação também era parte importante na vida da escola, e ele participava com entusiasmo das atividades. Gostava de música clássica e, como os professores do Conservatório vinham dar aulas gratuitas na Instituição, dedicou-se a um estudo que consistia em ouvir e repetir o que era ouvido. As condições não eram ideais, mas Braille tornou-se um excelente pianista e, mais tarde, o talentoso organista de Notre Dame des Champs.
    Em agosto de 1821, Braille participou emocionado dos preparativos e da homenagem prestada a Valentin Haüy na Instituição da qual ele era fundador. Nesta ocasião, estiveram reunidos o fundador da primeira escola para cegos e o futuro inventor de um sistema de leitura e escrita para cegos.
    As dificuldades enfrentadas por Louis Braille em seus estudos o levaram, desde cedo, a preocupar-se com a possibilidade de criação de um sistema de escrita para cegos. Para isso, ele contou com a ajuda de outras pessoas, como Charles Barbier de la Serre, capitão de artilharia do exército de Louis XIII, criador de um sistema de sinais em relevo que, quando combinados, transmitiam suas ordens militares para os soldados durante a noite. Assim, mesmo no escuro, seus subordinados podiam decifrar as ordens superiores. Com o uso do sistema, Barbier pensou na possibilidade de seu processo, denominado "escrita noturna", servir para a comunicação entre pessoas cegas, transformando-o então num sistema de escrita para cegos rebatizado para "grafia sonora". Através desse sistema, qualquer frase podia ser escrita, mas, como era um sistema fonético, as palavras não podiam ser soletradas. Um grande número de sinais era usado para uma única palavra, o que tornava a decifração longa e difícil. Louis Braille rapidamente aprendeu a usar o sistema, que praticava sempre com um amigo, escrevendo com o auxílio de uma régua guia e de um estilete. Adquirindo maior habilidade no uso do método, ele acabou descobrindo seus problemas e começou a pensar em possíveis modificações.
    As dificuldades do sistema de Barbier eram as seguintes: ele não permitia o conhecimento de ortografia, já que os sinais representavam apenas sons; não havia símbolos para pontuação, acentos, números, símbolos matemáticos e notação musical; e, principalmente, a lentidão da leitura devido à complexidade das combinações. O sistema novo de Braille visava eliminar completamente esses problemas, e ficou pronto em 1824, quando tinha apenas 15 anos de idade, através da criação do alfabeto Braille, onde 63 combinações representavam todas as letras do alfabeto, além de acentuação, pontuação e sinais matemáticos.
    Apesar de sua saúde deficiente, pois contraiu tuberculose aos 26 anos, Braille trabalhou constantemente no aperfeiçoamento de seu sistema e, em 1838, publicou a "Pequena sinopse de aritmética para principiantes". Logo em seguida, em 1839, publica "Novo método para representação por sinais de formas de letras, mapas, figuras geométricas e símbolos musicais para uso de cegos". Este último método consistia em escrever as letras de forma convencional, marcando com o punção uma série de pontos em relevo. Para padronizar a dimensão das letras, Braille determinou num quadro o número de sinais necessários para cada letra. Esta nova invenção também foi adotada pelos alunos, e Louis chamou-a de "grafia pontilhada". O objetivo deste sistema era facilitar a comunicação com os videntes.
    Apesar dos esforços de Braille para aperfeiçoar e desenvolver seu sistema, e de sua aceitação pelos alunos da Instituição, o método de ensino continuava sendo as letras em relevo de Valentin Haüy, pois muitos professores conservadores relutavam em abandonar os velhos métodos. O diretor da época era contrário à oficialização do sistema, pois julgava que o sistema Braille isolava os cegos. Em 1840, o Ministro Francês do Interior, a quem coube a decisão final, opinou que os estudos em Braille deveriam ser encorajados, mas que eles não estavam prontos para a mudança do sistema.
    Só quando, em 1843, o Instituto Real para Jovens Cegos foi transferido para um novo prédio, é que o diretor passou a aceitar o sistema de Braille. Louis ficou profundamente comovido quando, na inauguração do novo prédio, seu método finalmente foi demonstrado publicamente e declarado aceito. Este foi o primeiro passo para a aceitação geral. Daí em diante, seu uso começou a expandir-se por toda a Europa. Sua saúde, porém, piorava com o passar dos anos, tornando mais frágil. Em 1850, terminou por demitir-se de seu cargo de professor do Instituto, onde passou a dar apenas algumas aulas de piano. Um ano depois, Louis sofre uma grande recaída, ficando em seu leito até sua morte, em 1852, sempre confiante de que seu trabalho não tinha sido em vão.

    Trechos do livro "Louis Braille: sua vida e seu sistema" (Fundação para o Livro do Cego no Brasil, São Paulo, 1978, 2ª edição), redigido por Jurema Lucy Venturini e Teresinha Fleury de Oliveira Rossi (adaptação de Ana Paula Pimentel).


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