REABILITAÇÃO


A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO ENTRE OS DEMAIS SERVIÇOS PRESTADOS AOS PORTADORES DE CEGUEIRA ADQUIRIDA

"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu... A gente estancou de repente ou foi  o  mundo então que cresceu..."
"Roda viva". Chico Buarque de Holanda

    Estancar a vida é a sensação que tem uma pessoa que está perdendo ou repentinamente perdeu a visão. Segundos relatos de adolescentes e adultos, que participam do Programa de Reabilitação e Reintegração existente na Sociedade de Assistência aos Cegos.

    Como fazer para continuar me sentindo útil? Manter meus amigos próximos? Minha família aprender a lidar comigo e aceitar essa nova realidade? Como me aceitar? São alguns dos questionamentos presentes no pensamento do portador de cegueira adquirida.

    A perda visual como qualquer outra perda, se apresenta como um vagão que descarrilou e saiu do trilho; desestrutura, abala os sentidos, a comunicação, a locomoção e decresce a facilidade na escrita e na fala.

    Ao primeiro impacto desenvolve um quadro depressivo, que exigirá do indivíduo, uma forte e sólida estrutura emocional para enfrentar a realidade implacável, mas que ocorre de forma diferenciada e proporcionalmente valorativa, ao conteúdo emocional e meio social em que se encontra.

    Para alguns, uma experiência aterradora, para outros um desafio a vencer. Cada um passa a fazer uma retrospectiva de vida, revisão de valores, descobertas de habilidades, resgate de conhecimentos e potenciais até então adormecidos.

    Segundo Tomas J. Carrol, "a reabilitação é o processo criado para restaurar uma vida humana que foi lesada, é com a reabilitação que os adultos afetados por diferentes graus de desamparo, de perturbações emocionais e de dependência, atingem uma nova compreensão de si mesmos e de sua incapacidade, adquirindo novas habilidades, necessárias para superarem sua situação atual, o novo controle de suas emoções e de seu meio ambiente".

    A reabilitação exige primeiramente o conhecimento de tudo o que cada um perdeu ao se tornar cego; quem era ele quando tinha visão. Compreender que ao perder a visão o adolescente ou adulto, passam a vivenciar uma experiência inédita, ter que descobrir e estimular os sentidos remanescentes, desmistificar a incapacidade do cego em relação ao trabalho e tarefas cotidianas, amenizar o relacionamento muita vezes conturbado com os familiares.

    Todos estes fatores se apresentam como desafio ao portador de cegueira adquirida. A reabilitação total se processa em aspectos distintos a saber:

   Aspecto Social - O portador de cegueira adquirida aprenderá técnicas para funcionar com independência, na locomoção, na comunicação e outros setores da vida diária. A locomoção possivelmente seja a maior perda que o indivíduo sofre ao ficar cego. O aprendizado do Braille, reabrindo o horizonte para a leitura e escrita. A conservação dos hábitos de higiene, os cuidados para manter a boa aparência física e a naturalidade nos gestos e postura.

   Aspecto Emocional - Toda mudança cobra adaptação e acomodação às situações que a realidade apresenta. Convencer-se de que passará o resto da vida cego é para muitos uma luta interior que se trava em silêncio, mas que necessita do apoio psicológico de um profissional, com o propósito de promover a aceitação de que nem tudo está perdido e que com treinamentos adequados poderá voltar a viver feliz.

   Aspecto Profissional - Nada justifica que a cegueira leva o indivíduo a trabalhar só com as mãos, muitas tarefas são possíveis intelectualmente e mais ainda quando o portador de cegueira adquirida já possuir uma profissão definida e anterior ao infortúnio. O advento da informática na reabilitação do cego veio ampliar ainda mais o leque de opcões para continuar vencendo os obstáculos e retomar as atividades profissionais.

   As atividades manuais desenvolvem habilidades até então inexploradas e estimulam a sensibilidade tátil, que é essencial para a leitura braille; os aposentados e adolescentes que não tiveram chance de freqüentar ensino regular poderão usufruir dos treinamentos em oficinas de vassouras, empalhamento ou bijuterias, abrindo caminhos para uma autonomia profissional.

   A pessoa que ficou cega deve estar capacitada em sentir-se à vontade em suas atividades rotineiras; sentir-se em condições de dispensar ajuda e voltar ao mesmo tipo de ocupação que exercia antes da cegueira ou pelo menos uma atividade que se assemelhe. O importante é que o indivíduo possa continuar desfrutando da mesma posição social e profissional que gozava antes.

Lisabeth Cléa Britto de Souza
Psicóloga


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