SOCIEDADE DE ASSISTÊNCIA AOS CEGOS
60 ANOS
Ensinando a Ver o Mundo
Blanchard Girão
Páginas: 171-174


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A VOZ DA AMIZADE

     Outro campo artístico bastante enfatizado refere-se ao rádio, encontrando-se um curso montado com os equipamentos necessários à formação profissional de futuros radialistas. Abra-se um parêntese para deplorar que, não obstante todo o seu empenho junto a setores oficiais, até hoje a Sociedade de Assistência aos Cegos não obteve concessão de um canal radiofônico para fins profissionalizantes em seu Instituto.
     Mas o programa "A Voz da Amizade", em circuito interno, alcança muito sucesso e oferece os resultados mais proveitosos. Totalmente produzida por deficientes visuais, a transmissão vai ao ar diariamente no âmbito da instituição, já tendo revelado diversos e talentosos rapazes vocacionados para trabalhar em microfones ou em outros setores da radiofonia (mesa de som, contra-regra, etc.). Alguns deles, por sinal, já lograram aproveitamento em emissoras comerciais de Fortaleza e do interior cearense, como locutores, plantonistas e diferentes categorias radiofônicas.
     Recorde-se que um dos maiores nomes da música popular internacional do momento é o cego italiano Andréa Bocelli. Quem sabe, a qualquer momento, não surgirá entre os participantes da Voz da Amizade algum cantor à altura de integrar o cast das grandes estações de rádio e televisão? A cantora cega Kátia, de renome na cena musical brasileira, é hoje a responsável pela produção de programas Dosvox para a comunidade cega brasileira.
     Se a SAC conseguisse um canal de transmissão para seus programas, além de abrir mercado de emprego para dezenas de pessoas, revelaria com certeza alguns importantes valores para o broadcasting do Ceará e do País.

Cegos radialistas
Cegos radialistas


     O currículo da educação artística estende-se ainda aos trabalhos manuais, nos quais o deficiente revela incomum capacidade, porquanto exercita com destreza o sentido do tato. São objetos os mais variados, como tapetes, cestas em arame, brinquedos em argila, em cartolina, enfim, uma variedade muito vasta de produtos nascidos do poder criativo do homem destituído da visão.
     Antes de ser matriculado, o deficiente submete-se a uma análise psicológica durante a qual revela sua vocação para determinados ramos de atividade. É nessa hora que a equipe multidisciplinar do Instituto encaminha cada um para a turma mais adequada, onde ele vai desenvolver com mais entusiasmo e segurança seu verdadeiro potencial.
     Palavras da psicóloga Beth, uma das integrantes dessa importante equipe: "O cego é um ser socialmente útil e, muitas vezes, excepcionalmente dotado de talentos muito acima dos encontrados em pessoas normais, não podendo ser tomado como um número desprezível para ser atirado à segregação ou à mendicância."
     Da conversa mantida com essa psicóloga, decidimos reservar um capítulo sobre a alma da pessoa cega, penetrada pela ciência freudiana.      

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