Arquimedes Bruno

          Tal como consta dos Evangelhos, no princípio prevaleceu o verbo. Um verbo forte, empolgante, convincente, apaixonante. O verbo daquele que, em sua época, era tido merecidamente como o maior orador sacro do Ceará. Sem favor, um dos mais brilhantes do País.

     Foi do padre Arqui­medes Bruno a chama inicial que redundou na criação da Sociedade de Assistência aos Cegos. Logo encontrou em Hélio Góes Ferreira o seu braço direito. Os dois alavancaram a generosa idéia.

     Todavia, coube a Arquimedes Bruno a missão evangélica de atrair e convencer apóstolos para a causa. Com sua palavra flamejante, ele foi abrindo os olhos da sociedade de Fortaleza para a necessidade de assistir aos que viviam da caridade pública, humilhando-se e envergonhando a própria comunidade.

     Fortaleza dos anos 40 procurava saber por onde andava celebrando o jovem padre Arquimedes Bruno. Suas missas ganhavam crescente comparecimento de fiéis, tomados de arrebatamento pelos seus sermões. E em cada oportunidade, Arquimedes, bom marqueteiro (e nem se conhecia então este vocábulo) vendia sua magnânima e resplandecente opinião sobre um tema normalmente aberto ao sentimento solidário do povo.

     A SAC teve seus primeiros passos amparados nas homilias do notável orador. Fez-se acreditar da nobreza de seu ideal, mostrou que a cidade não poderia continuar a conviver com a triste paisagem daqueles infelizes, arrastados por guias ou sentados nas calçadas, uma bacia à frente, a implorar a caridade pública.